Minc sofre pressão de todos os lados, diz ¨Washington Post¨ 06/11/2008
- BBC
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ¨sofre pressões de todos os lados¨, diz o jornal americano ¨Washington Post¨, em sua edição desta quinta-feira.
Em entrevista concedia ao jornal, o ministro diz que é ¨um ecologista dentro do governo, mas é do governo¨ e que equilibrar estes dois papéis se mostrou difícil.
O ministro conta que sofre pressões ¨todo dia, o dia todo, nas mais diferentes formas imagináveis¨ para aprovar projetos que têm impacto ambiental.
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O artigo cita como exemplo a suspensão, em setembro, do processo de licenciamento da estrada que liga Porto Velho a Manaus.
Minc diz que queria garantir que o projeto incluísse a criação de suficientes áreas protegidas em volta da estrada, e pediu que fosse levada em conta a possibilidade da construção de uma ferrovia, ao invés de uma auto-estrada.
¨Este projeto é um sonho do Ministério dos Transportes. Eles querem isto o mais depressa possível. Eles querem a licença [ambiental] amanhã. Eles estão nos pressionando¨, disse Minc ao jornal, garantindo: ¨Eu mantive minha decisão. Sem proteção suficiente, eu não darei a licença¨.
¨Che Guevara¨
O jornal americano lembra o passado de militância esquerdista do ministro brasileiro na década de 60, e diz que ele tinha ¨metas grandiosas em seus anos de juventude¨, quando ambicionava ser um ¨Che Guevara¨. ¨Mas nos primeiros seis meses como principal autoridade ambiental, Minc, 57 anos, descobriu que o nível de combate neste cargo burocrático é mais do que suficiente¨ em sua trajetória.
Minc assumiu o cargo em maio, depois da repentina renúncia de Marina Silva, que ¨conquistou status de ícone nos círculos ambientais por sua defesa da maior floresta tropical do mundo¨, e sentiu que logo começaram as cobranças, diz o diário.
¨Em sua primeira semana no cargo, ele (Minc) lembra que foi indagado em uma reunião de autoridades ambientais mundiais em Bonn, na Alemanha, se a Amazônia iria ´se transformar em poeira´ durante sua gestão¨, lê-se no ¨Washington Post¨.
Desde então, a administração do ministro ¨tem sido marcada por uma tendência a gestos ousados, mas controvertidos¨, como o envio de soldados para confiscar gado em áreas desmatadas ilegalmente e a inclusão do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) na lista que divulgou dos cem maiores desmatadores do país.
¨Cada medida que eu adoto está na TV. Eu não tenho vergonha do que eu faço¨, diz Minc. ¨Você precisa criar exemplos. Você precisa da TV. Ou as pessoas acham que podem destruir a floresta e não vai acontecer nada.¨
Segundo o jornal, Minc causa controvérsia entre os ativistas pelo meio ambiente. Stephan Schwartzman, especialista em Amazônia do Fundo para a Defesa Ambiental em Washington disse que ¨ainda é cedo para julgar, mas é certo que Minc sucede a uma ministra do Meio Ambiente que deixou um legado incrível¨.
¨Otimismo cauteloso¨
¨Vários ambientalistas disseram que mantém um otimismo cauteloso até agora de que Minc não pretende se afastar radicalmente das políticas de [Marina] Silva, embora alguns expressem preocupação de que ele parece mais disposto a aprovar projetos de desenvolvimento de larga escala planejados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva¨, de acordo com o ¨Washington Post¨.
¨Minc disse que espera ser criticado por todos os lados e às vezes acha isso útil. Pressão de grupos ambientais ajudam-no a exigir mais concessões de empresas e do governo¨, afirma o artigo.
O artigo termina com uma avaliação de Paulo Adário, do Greenpeace. ¨Eu acho que ele está fazendo um bom trabalho. Nós temos que levar em conta que quando Marina Silva deixou o Ministério e Minc foi convidado a assumir, foram colocadas muitas exigências sobre seus ombros. Todo mundo agora quer soluções para vários problemas diferentes¨, diz Adário.