Chávez, o democrata 16/11/2008
- O Estado de S.Paulo
A pouco mais de 10 dias das eleições regionais, o caudilho Hugo Chávez dá novas mostras de que pretende colocar nos 22 cargos de governadores e 338 de prefeitos em disputa os candidatos de seu Partido Socialista Unidos da Venezuela (PSUV), custe o que custar. As pesquisas de opinião mostram que a oposição pode vencer em 8 Estados, e isso é inadmissível para Chávez. Ele precisa controlar todos os Estados para poder retomar o seu projeto de dotar a Venezuela de uma constituição socialista, tornando-se, por lei, ditador vitalício.
Para atingir esse objetivo, utiliza todos os meios à sua disposição, não economizando dinheiro, quando é possível comprar consciências e votos, e muito menos ameaças e a força física de seus prepostos, quando é o caso. Esse processo de fraude eleitoral começou há meses, quando a Controladoria-Geral, sob seu controle, declarou a inelegibilidade de mais de 280 candidatos da oposição que tinham boa aceitação ante o eleitorado.
Desde que se iniciou a campanha eleitoral, Hugo Chávez usa o seu programa semanal de rádio e televisão para ameaçar abertamente os candidatos da oposição e os eleitores independentes. Esta semana, um alto dirigente do PSUV anunciou que as ¨patrulhas¨ e os ¨batalhões¨ bolivarianos - milícias a serviço de Hugo Chávez - começarão a visitar os eleitores, ¨casa por casa¨, para entregar-lhes santinhos com os nomes dos candidatos do partido. Não é necessário dizer que esta será uma operação de intimidação dos eleitores. Mussolini usava método parecido, convencendo os recalcitrantes a golpes de porrete e goles de óleo de rícino.
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Mas Chávez também usa métodos mais suaves para obter os resultados eleitorais que deseja. Nos seus programas eleitorais, ele tem feito a propaganda de seus candidatos preferidos, embora isso seja proibido por lei. E, no dia 26 passado, o Conselho Nacional Eleitoral - que ele controla, como a todas as instituições venezuelanas - realizou uma votação simulada em todo o país, a pretexto de verificar o funcionamento das máquinas eletrônicas e de ensinar os eleitores a utilizá-las. Ao PSVU foram distribuídas, com grande antecipação e em quantidades generosas, as cédulas que seriam usadas nos testes. Os partidos de oposição receberam pequenas quantidades de cédulas na véspera da votação simulada.
Chávez tem dedicado especial atenção aos Estados onde a oposição é forte. Essa seria uma estratégia eleitoral normal, não fossem os argumentos que utiliza para reverter a tendência do eleitorado. Primeiro, ele ¨amacia¨ os eleitores com farta distribuição de brindes - o que, em qualquer democracia, seria considerado compra de votos. Depois, ele utiliza um vasto repertório de palavras chulas para classificar seus adversários e de ameaças, se eles vencerem as eleições.
Num comício no Estado de Carabobo, por exemplo, depois de reconhecer que seu candidato não está bem cotado nas pesquisas, ele advertiu o eleitorado: ¨Se vocês permitirem que a oligarquia volte ao governo regional, talvez eu acabe usando os tanques da brigada blindada para defender o governo revolucionário e o povo. Pátria ou morte é o lema.¨ Ao governador do Estado de Zulia, Manuel Rosales, que concorre à prefeitura de Maracaibo pela oposição, o caudilho também ameaça de prisão. Mas, antes, privará o Estado de recursos financeiros e enviará os tanques - sempre os tanques! - para restaurar a ¨ordem revolucionária¨.
Além disso, Chávez promete fazer do Estado de Barinas terra arrasada, se a oposição vencer. É que esse Estado é governado pelo pai do caudilho, e sua administração é um escândalo continuado, dada a ruína das contas públicas e a prosperidade das finanças da família. O candidato do PSUV, não por acaso, é Adán Chávez, filho do atual governador e irmão do caudilho que diz odiar as oligarquias.
A mais recente façanha de Hugo Chávez foi ter ordenado que as Forças Armadas ocupassem o aeroporto de Carúpano, no Estado de Sucre, sob o falso pretexto de que as autoridades locais impediam a construção de uma base de operações da estatal petrolífera. Antes, ele havia ameaçado mandar tanques para as ruas, em caso de vitória da oposição nas eleições do dia 23. Desnecessário dizer que o prefeito de Carúpano e o governador de Sucre são da oposição - e por isso estão ameaçados de ir para a cadeia.
Esses são os métodos ¨democráticos¨ que Hugo Chávez usa para vencer as eleições.