Eleições regionais serão termômetro para Chávez, dizem especialistas 23/11/2008
- Giseli Souza e Fernando Serpome - Folha Online com agências internacionais
As eleições regionais deste domingo na Venezuela servirão de termômetro para o presidente Hugo Chávez, segundo analistas consultados pela Folha Online. Hoje, cerca de 17 milhões de venezuelanos irão às urnas para escolher 22 governadores, 328 prefeitos e 233 legisladores estaduais, entre os quase cinco 5.000 candidatos.
¨É uma eleição com impacto nacional e o segundo capítulo de um grau de rejeição crescente ao governo caudilho que o presidente Chávez reserva. Na campanha eleitoral ele precisou pôr muita força na propaganda já que está em franco declínio internamente e internacionalmente¨, afirmou José Flávio Sombra Saraiva, PhD em Política Internacional pela Universidade de Birmingham e professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
No plebiscito realizado em dezembro do ano passado, a população votou contra mudanças na Constituição, entre elas a possibilidade de reeleição presidencial ilimitada proposta pelo presidente venezuelano. Para Saraiva, o referendo foi ¨o primeiro sinal de que a legitimidade política de Chávez tinha limites¨.
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¨Agora, ele enfrenta três limites profundos. O empobrecimento da camada mais pobre da população, a falta de uma boa utilização das commodities, como a criação de um programa industrial e de financiamento para a criação de uma base diversificada do sistema produtivo, e o discurso anti-americano que é apenas um desvio retórico de Chávez para se manter no poder nas próximas décadas¨, disse o professor.
Reeleição
Diversos opositores, que apresentaram candidaturas na maioria dos Estados e cidades do país, afirmam que Chávez ainda lutará para a aprovação das reeleições indefinidas para depois de 2013. Seu mandato acaba em 2012. Recentemente, quando questionado a respeito do tema, Chávez disse que ¨ainda tem quatro anos pela frente¨. ¨Não vamos discutir isso agora. Vamos falar depois de novembro. Ainda temos quatro anos pela frente, só Deus sabe o que irá acontecer¨, disse.
Luis Lander, cientista político da organização apartidária Ojo Electoral, afirma que uma nova tentativa de Chávez pela reeleição indefinida irá depender dos resultados deste pleito. ¨Se no domingo, os candidatos apoiados por Chávez têm bons resultados, ganham a maioria dos cargos e recuperam a votação chavista, que diminuiu muito no ano passado, Chávez irá se sentir com força para tentar produzir uma reforma da Constituição que permita a reeleição indefinida¨, disse Lander à Folha Online, por telefone, de Caracas.
¨Caso contrário, se o resultado oferecer uma composição mais equilibrada, teria a necessidade de pensar um pouco mais sobre o risco de se submeter a outra derrota política nesse tema.¨
Segundo o secretário geral do Partido Podemos (dissidente do chavismo), Ismael Garcia, ¨o que está em jogo no próximo domingo é o destino do país¨. ¨Não estamos elegendo apenas governadores e prefeitos. As pessoas que foram rejeitadas no plebiscito continuarão sendo rejeitadas novamente¨, defendeu Garcia.
Consciente da popularidade em queda desde o ano passado, Chávez participou ativamente da campanha neste ano, tendo acompanhado os candidatos do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela). Em uma declaração recente à imprensa, o ministro da Informação, Andris Izarra, disse que o presidente estava explorando ¨a possibilidade real do partido ganhar em todos os Estados¨.
¨Nós estamos julgando o futuro da revolução, o futuro do socialismo, o futuro da Venezuela, o futuro do governo revolucionário e também o futuro de Hugo Chávez¨, disse o presidente em um dos discursos nos últimos dias.
Sucessão
Lander afirma que, caso Chávez não consiga alterar a Constituição para continuar no poder depois de 2012, dois nomes do oficialismo podem surgir como sucessores -- o atual governador do Estado de Miranda e candidato à reeleição, Diosdado Cabello, e o candidato ao governo de Caracas, Aristóbulo Istúriz. ¨Istúriz também foi ministro da Educação e presidente da Assembléia Nacional Constituinte de 1999, sendo uma pessoa importante dentro do chavismo¨, disse o cientista político.
Do lado da oposição, ¨a coisa é mais complicada e mais diversa¨, diz Lander. Para o venezuelano, o atual governador de Zulia e candidato à Prefeitura da capital do Estado, Manuel Rosales, é um eventual candidato para eleições presidenciais futuras.
Saraiva tem opinião diferente. Para o professor, Chávez ainda não tem um sucessor dentro do partido ou na oposição. ¨Apesar da sociedade venezuelana não ver Chávez se perpetuando no poder, será uma equação política difícil para os próximos três anos¨, disse o professor. ¨[Há] um governante enfraquecendo-se, com vontade de permanecer, e uma oposição sem um projeto muito visível, sem uma alternativa conceitual muito clara¨.
Segundo Saraiva, a ausência de uma ¨figura política¨ com um plano de governo deve ser contornada até 2013.
O estudioso afirma que a oposição vem crescendo, mas ainda não possui agenda, se concentrando apenas em ser anti-Chávez. ¨Não existe nenhuma movimentação em torno de um planejamento político¨, disse. ¨O drama é esse, substituíram uma elite que trouxe o Estado para si por um governante caudilho que também quer o Estado para ele¨, disse o professor que compara a figura de Chávez a um ¨Deus inca¨.