O PT tropeça na crise 09/12/2008
- O Estado de S.Paulo
Já não bastasse a fatalidade de disputar a próxima eleição presidencial, pela primeira vez desde 1989, sem a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva, o PT terá contra si na campanha de 2010 os maus ventos da economia.
Ainda que os estragos da crise financeira mundial não venham a mergulhar o Brasil numa recessão como a que já se instalou nos países centrais, bastará a ruptura do ciclo de bonança dos últimos anos para recobrir com pesadas nuvens as chances petistas de se manter no governo - com uma provável candidata, a ministra Dilma Rousseff, da escolha pessoal de Lula, sem raízes na agremiação e cujo apelo eleitoral por enquanto se traduz em índices de um dígito nas pesquisas de intenção de voto.
Além disso, tampouco se sabe até que ponto a popularidade do presidente se manterá incólume, à medida que se frustrarem as atuais expectativas otimistas da maioria da população, e, menos ainda, qual será a sua capacidade de carrear votos para a sua afilhada política, no cenário de adversidade que se desenha.
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O PT, portanto, tem motivos de sobra para se inquietar - e para procurar, desde já, uma estratégia eleitoral que atenue o dano inevitável da ausência, na cédula eletrônica, do nome que agrega votos numa escala a que a legenda não pode aspirar, para si, nem em sonho. Será, ao que tudo indica, uma jornada acidentada e de resultados duvidosos.
O primeiro passo, pelo menos, foi um tropeço. No último fim de semana, mais de 200 dirigentes partidários se reuniram em São Roque, no interior paulista, para um encontro da corrente Construindo um Novo Brasil, que controla o PT, nascida dos escombros do antigo Campo Majoritário, alcançado em cheio pelo escândalo do mensalão em 2005 (o que não abalou a liderança, no grupo, do ex-ministro José Dirceu).
Ao cabo de três dias de palestras, com a presidenciável Dilma no papel de debutante, a elite petista chegou à notável conclusão de que a culpa pela versão brasileira da crise econômica cabe ao PSDB e ao DEM.
¨A crise tem pai e mãe¨, proclamou no encerramento da reunião o secretário nacional de Comunicação do partido, Gleber Naime. ¨Ela é uma crise do modelo neoliberal, daqueles que no Brasil defenderam as idéias de desregulamentação do Estado, ou seja, o PSDB e o DEM. E esse debate o PT vai fazer.¨
A confusão é geral. Para começar, os petistas agem como se as políticas que têm como anátema - aquelas iniciadas no primeiro governo de Fernando Henrique a partir da estabilização da moeda brasileira, com a criação do real, e sensatamente mantida, até hoje, pelo presidente petista - não fossem os alicerces de toda sua imensa popularidade.
Além disso e mais importante ainda, foi graças a essas políticas, impropriamente rotuladas de neoliberais, que o Brasil é apontado hoje como o país mais apto entre os emergentes a resistir ao tsunami global. Ou, nos termos de um relatório da OCDE, divulgado na última sexta-feira, o cenário é de perda de ritmo, não de ¨forte desaceleração¨.
Se o PT, portanto, for aos palanques de 2010 com o dedo acusador apontado para o ¨modelo falido¨, como causador do que vier a ser, até lá, a crise no Brasil, estará fazendo campanha contra o governo de seu maior líder histórico e seu principal eleitor.
O paradoxo é gritante - e revelador do bloqueio mental de que padece o petismo. O que a companheirada é incapaz de admitir é que não houve no Brasil, sob Fernando Henrique, nada que lembre a desregulamentação dos mercados financeiros nos EUA. Ao contrário, o Proer, que os petistas combateram a ferro e fogo, foi o que proporcionou ao sistema bancário nacional a estabilidade graças à qual não teve o destino dos seus congêneres da América do Norte e da Europa.
Também no plano do Estado, foi a ¨herança maldita¨ da administração FHC - com a Lei de Responsabilidade Fiscal e o equilíbrio das contas públicas - que hoje permite ao governo fazer praça do seu preparo para enfrentar a conjuntura ameaçadora.
¨(No passado), o governo quebrava, perdia a capacidade de fazer política monetária, de expandir crédito¨, lembrou dias atrás Dilma Rousseff. ¨Hoje, estamos em situação diferente, temos todos os instrumentos para agir na crise. Podemos ampliar crédito e (adotar) tantas outras medidas para garantir uma aterrissagem mais suave.¨