capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 23/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.922.185 pageviews  

De Última! Só lendo para acreditar

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O espetáculo da indignação
11/12/2008 - O Estado de S.Paulo

O presidente Lula mudou. Desde que a força dos fatos pôs abaixo a sua fantasia de que ¨se a crise americana chegar por aqui será uma marolinha¨, na qual ¨não dará nem para esquiar¨, ele passou a acrescentar ao costumeiro triunfalismo de seus pronunciamentos uma agressividade desmedida contra quem quer que tenha alertado, desde o primeiro momento, para os efeitos da retração global sobre a economia brasileira.

Na raivosa retórica presidencial, os que discordam de seus prognósticos sobre a virtual imunidade do País aos desdobramentos do colapso financeiro de Wall Street se dedicam a fazer ¨uma propaganda sistemática em favor da crise¨.

Foi o que disse, com o semblante alterado - vermelho de raiva e não de vergonha de pronunciar semelhante patacoada -, ao discursar durante a inauguração de um trecho - inacabado, para variar - da Ferrovia Norte-Sul, em Colinas do Tocantins.


PUBLICIDADE


¨Tem gente¨, acusou, ¨que vai deitar rezando para que a crise pegue o Brasil, para esse Lula se lascar.¨

Eis um rematado disparate. Nenhum brasileiro de posse de suas faculdades mentais há de querer que Lula se lasque, se isso significar que a economia descarrilou. Na realidade, a síndrome do ¨quanto pior, melhor¨ é alheia ao debate público nacional. Mesmo os críticos do governo e os adversários políticos do lulismo sempre torceram para que a proverbial sorte do presidente, da qual ele falava de boca cheia, não o deserdasse, pelos óbvios e alentados ganhos que ela trouxe ao País nos anos recentes - se é disso que se tratou. Mais ainda agora, é de desejar que a boa estrela de Lula se mantenha para que o Brasil sofra o mínimo com a crise que ¨não foi causada por nós¨, como ele insiste, nesse ponto coberto de razão. Mas, da mesma forma que os demais países emergentes, o Brasil se beneficiou da pletora de créditos em circulação no globo, alimentando um formidável ciclo de prosperidade - real, sem dúvida, conquanto artificiais as suas bases, como ficou patente.

O presidente decerto não pensa o que diz - imaginar o contrário seria fazer pouco-caso de sua inteligência. O que parece desatar a sua ira teatral é a avaliação do que o espera. Não é uma perspectiva que suscite o bom humor. O País acaba de chegar ao ápice de uma trajetória de expansão econômica que foi decisiva para fazer de Lula o governante mais popular dos tempos modernos em seu país e um dos mais admirados do mundo. Mas desse promontório o que se vislumbra é um declive - menos ou mais acentuado, o tempo dirá. Só que a descida coincidirá perversamente com a construção da candidatura Dilma Rousseff e tenderá a afetar - em grau ainda incerto também - as suas chances de herdar o patrimônio eleitoral do presidente que a escolheu como sucessora, numa decisão, diga-se de passagem, estritamente pessoal. Está claro que, diante da mudança dos ventos da economia, Lula preferiu não esperar o novo ano para desencadear a campanha pró-Dilma. ¨Temos muita coisa para fazer¨, disse numa entrevista recente. ¨E 2009 será um ano de inauguração de muitas obras e de muita costura política.¨

Foi, sem tirar nem pôr, o que se viu na terça-feira em Colinas do Tocantins, na solenidade - ou melhor, no comício - em que o presidente verberou aqueles que supostamente estariam rezando para ele se lascar. Ele se guardou de citar pelo nome a ministra presente ao seu lado - afinal, era um ato de governo -, mas duas vezes afirmou ter ¨certeza¨ de que fará a sua ¨sucessão¨, evitando assim falar em sucessor ou sucessora. Mas a costura política se fazia a céu aberto. Se Lula trabalha para ter o PMDB com a sua candidata - indicando o seu companheiro de chapa -, ali estava um aliado inestimável, o ex-presidente José Sarney, o idealizador da Ferrovia Norte-Sul quando ocupou o Planalto, entre 1985 e 1989 (o que é um exemplo de livro de texto sobre o ritmo das coisas que dependem da administração federal). Sarney, o patrono da entrada do PMDB no governo Lula, foi mais do que enfático em sua adesão a Dilma.

¨Estive em muitos cargos da República e poucas vezes vi alguém tão dedicado à causa pública, tão estudioso dos problemas do Brasil quanto Dilma¨, entoou. ¨Ela é uma sacerdotisa do serviço público.¨ (Já não bastasse ser a mãe do PAC?) Esse, em suma, o pano de fundo para o espetáculo da indignação do presidente.

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
14/08/2023 - NONO NONO NONO NONO
11/08/2023 - FRASES FAMOSAS
10/08/2023 - CAIXA REGISTRADORA
09/08/2023 - MINHAS AVÓS
08/08/2023 - YSANI KALAPALO
07/08/2023 - OS TRÊS GARÇONS
06/08/2023 - O BOLICHO
05/08/2023 - EXCESSO DE NOTÍCIAS
04/08/2023 - GUARANÁ RALADO
03/08/2023 - AS FOTOS DAS ILUSTRAÇÕES DOS MEUS TEXTOS
02/08/2023 - GERAÇÕES
01/08/2023 - Visitas surpresas da minha terceira geração
31/07/2023 - PREMONIÇÃO OU SEXTO SENTIDO
30/07/2023 - A COSTUREIRA
29/07/2023 - Conversa de bisnetas
28/07/2023 - PENSAR NO PASSADO
27/07/2023 - SE A CIÊNCIA NOS AJUDAR
26/07/2023 - PESQUISANDO
25/07/2023 - A História Escrita e Oral
24/07/2023 - ESTÃO ACABANDO OS ACREANOS FAMOSOS

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques