Reforço para a construção 24/12/2008
- O Estado de S.Paulo
As vendas de imóveis foram expressivas nos primeiros dez meses do ano, mas, em outubro, recuaram fortemente, atingindo os piores níveis desde 1999, segundo o balanço feito pelo Sindicato da Habitação (Secovi). Para evitar o desaquecimento mais forte de um setor-chave para os investimentos, o governo ampliou os incentivos à construção civil e os financiadores estão propondo mecanismos para manter a oferta de crédito, sem agravar os riscos de aumento da inadimplência, hoje sob controle.
Entre janeiro e outubro, em média, de cada 100 imóveis ofertados por mês, quase 15 foram de fato vendidos, mas este número recuou para menos de 5, em outubro. Em 2007, um ano de euforia, a média de vendas mensais superou 16 em cada 100 unidades. O indicador, conhecido como VSO (vendas sobre a oferta), mede a velocidade das operações - um dado essencial para acompanhar a liquidez dos ativos imobiliários.
Nas últimas semanas, as visitas a stands de venda de imóveis chegaram a cair 50%. Compradores potenciais retardam as aquisições por temerem o desemprego ou a diminuição das rendas familiares. E os financiamentos ficaram mais caros, embora dependam do funding (recursos), que não sofreu alteração, das cadernetas de poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, que rendem, respectivamente, 6% e 3% ao ano, mais a Taxa Referencial de Juros.
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Os dados do Secovi são da cidade de São Paulo, onde 39 mil imóveis foram lançados em 2007, bem mais que os 35 mil deste ano. Para 2009, espera-se o lançamento de 26 mil a 28 mil imóveis, volume semelhante ao de 2006, segundo Celso Petrucci, economista-chefe da entidade. O valor global de vendas projetado para o ano que vem é de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões.
O enfraquecimento das vendas afetou as construtoras que mais usaram o capital de giro na compra de terrenos, pagando preços elevados. Agora, muitas temem lançar projetos nesses terrenos. Alguns lançamentos chegaram a ser cancelados, com a devolução do sinal, depois de um curto teste para saber se haveria compradores em número suficiente para justificar o empreendimento. Para casos como estes, o governo permitiu que 5% dos recursos das cadernetas de poupança (pouco mais de R$ 10 bilhões) possam ser emprestados a construtoras. Apenas a Caixa Econômica Federal (CEF) deverá abrir créditos de R$ 3 bilhões.
As empresas de construção também foram beneficiadas pela Medida Provisória (MP) 451. Esta MP, que reduziu o Imposto de Renda Pessoa Física, foi ampliada para incluir a manutenção, até 2010, do regime de contribuições do PIS e da Cofins para o setor de construção. Os tributos serão recolhidos com alíquota de 3,65%, inferior à de 9,25%, como estava previsto.
As construtoras estão revendo projetos. Muitos estão migrando para o interior ou para as cidades da região metropolitana de São Paulo. Entre 2007 e 2008, reduziu-se de 62% para 53% o porcentual de projetos lançados na capital, onde é maior o custo de edificação e são mais rigorosas as regras de zoneamento.
As vendas de imóveis dependem de financiamentos, mas estes também se reduziram, entre setembro e outubro, depois de uma fase de crescimento eufórico. Os bancos que operam com cadernetas de poupança, no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), pretendem financiar R$ 30 bilhões neste ano, para cerca de 300 mil unidades. Em outubro, emprestaram R$ 2,4 bilhões e, no período de janeiro a outubro, R$ 25,2 bilhões. Já não há certeza de que as metas sejam cumpridas. E tornou-se provável que os valores financiados no ano que vem não cresçam em relação a 2008, como admitem os construtores.
Contra a desaceleração propõem-se estímulos fiscais à compra de imóveis, como no passado, com a dedução de juros na declaração do Imposto de Renda. Mas isto só seria razoável se, em contrapartida, resultasse na manutenção do ritmo das vendas e dos financiamentos, ou seja, onerando ao mínimo a arrecadação federal. O lado positivo da retração do mercado imobiliário é o maior equilíbrio entre a demanda e a oferta de recursos, pois já se temia o esgotamento dos recursos das cadernetas em, no máximo, dois anos.