Mário Morel é jornalista de larga experiência na imprensa brasileira. Depois de trabalhar como repórter no jornal Última Hora e na revista Manchete, iniciou-se na TV na redação dos telejornais das TVs Rio e Excelsior - duas das grandes emissoras do eixo Rio-São Paulo nos anos 1960. A partir de 1985, ingressou na TV Educativa (hoje, TV Brasil) e, pelas mãos de Fernando Barbosa Lima, passou a dirigir por quase dez anos o programa de entrevistas Sem Censura, à época, com nítida audiência registrada pelo Ibope.
Na TV do Lula, desalojado do Sem Censura, Morel passou a dirigir Olhar e, no início do segundo mandato, Espaço Público, ambos programas de entrevistas, no ar a partir da meia-noite. Em setembro de 2008, no entanto, depois de duas décadas na TV Brasil (ex-TVE), o jornalista foi demitido sem nenhuma explicação. E também foi para o espaço o programa Espaço Público, o único a questionar problemas brasileiros sem o enfoque exclusivamente governista, ainda que subordinado à ótica de debatedores em geral comprometidos com a ortodoxia esquerdista.
Não se pode dizer que tenha sido expurgado da TV Brasil por ser profissional incompetente, petista dissidente ou mesmo um neoliberal tresmalhado. Filho do legendário repórter Edmar Morel (autor do livro-depoimento A Revolta da Chibata, apreciado, entre outros, por Luís Carlos Prestes), Mario Morel, ademais, escreveu Lula, o Metalúrgico - Anatomia de uma Liderança (Nova Fronteira, Rio, 1980, em 3ª edição), livro biográfico que, no seu devido tempo, ajudou o ex-operário a chegar à Presidência da República.
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De fato, a demissão de Mario Morel é um enigma. Ele dá a entender que o Espaço Público, uma fenda na programação da casa, pode ter sido a razão de sua saída. Em declaração formal, partiu para a denúncia: "Fica cada vez mais claro que a TV Brasil é uma ?TV chapa-branca? a serviço do oficialismo da comunicação, objeto do deslumbramento de alguns diretores, cabide de emprego, sorvedouro de verbas públicas e área de manobra para empresas de comunicação do setor privado."
Na sua indignação, Morel, que antes imaginava a TV Brasil como uma possível "TV pública", conforme anúncio original de Lula, não faz jogo de palavras: "Os atuais dirigentes não são do ramo. Entre eles, ninguém nunca trabalhou numa emissora de televisão ou rádio. E ninguém tem experiência como dirigente de empresas. Criou-se ali um programa de debates, ?livre e independente?, chamado 3 a 1. O primeiro entrevistado foi o presidente Lula. Para a entrevista foi escalada a própria diretora de jornalismo de emissora."
Sobre quem manda hoje na TV Brasil Mario Morel faz revelações inusitadas: "Ela não é, como se diz por aí, a TV do Lula, mas, sim, a ?TV do La Peña?. La Peña é um jornalista dono de uma empresa de comunicação, a Monte Castelo, que atua nos bastidores através da diretora de jornalismo, Helena Chagas, e do presidente da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), jornalista Arnaldo Jacob, ambos com estreitas e antigas relações com a empresa Monte Castelo. Nos corredores da TV, La Peña se intitula amigo e conselheiro do ministro de Comunicação Social, Franklin Martins."
Ao tecer suas considerações, pondera, em tom dedutivo, mas contundente: "A TV Brasil não será uma TV pública como Lula disse que desejava. Uma TV que demite um jornalista (Luiz Lobo, ex-editor-chefe da TV e ex-âncora do Repórter Brasil) que não aceita chamar de ?banco de dados? o ?dossiê? do governo federal contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que extingue Espaço Público, único programa a discutir problemas brasileiros com independência, uma TV que só atinge 52 municípios dos 5.565 do País e com menos de 1% de audiência não é uma TV pública, é um brinquedo que custa R$ 350 milhões dos cofres públicos. A TV do La Peña é cara."
De fato, segundo o Ibope, a audiência média (nacional) da TV Brasil, que era de 0,75%, caiu para 0,72% (cerca de 170 mil pessoas) na atual gestão. E custa quantia bem mais elevada aos cofres da viúva (leia-se bolso do contribuinte): além dos R$ 350 milhões mencionados, a empresa tem acesso a um fundo de produção do Ministério da Cultura da ordem de R$ 80 milhões, além de outros tantos milhões advindos do faustoso universo das verbas publicitárias das estatais e do governo - sob o controle da Secretaria de Comunicação Social, dirigida pelo ex-guerrilheiro e jornalista Franklin Martins, a quem em última instância a emissora está subordinada.
Por mais incrível que pareça, o principal problema da TV Brasil não se apresenta no ostensivo desperdício de dinheiro público, muito menos no oficialismo que tomou conta de seus informativos ou mesmo na sua redução a área de manobra para empresas de comunicação privadas, como acusa o jornalista demitido. O mais perigoso, ou daninho, em especial para a frágil democracia vigente no País, é a infiltração sistemática da ideologia terceiro-mundista que impera na sua programação, a vender, sempre, de forma subliminar ou direta, valores distorcidos, preconceitos da luta de classes e as inatingíveis promessas da "utopia" socialista.
Com efeito, como a justificar os índices vergonhosos de audiência, ali se cultivam, sem questionamentos, as ideias e imagens de um Guevara messiânico, as bravatas do chavismo bolivariano, as eternas louvaminhas ao democida Fidel Castro, responsável direto pela morte de 130 mil pessoas. Outro dia, reproduzindo programa de entrevista com o esloveno Slavoj Zizek, "filósofo do caos", o espectador tomou o choque de ouvir esse embusteiro cultural tecer considerações (alucinadas) sobre a positividade dos gulags soviéticos, sem que ninguém presente protestasse.
Quanto ao enigma da demissão de Morel, parece não haver neste caso enigma nenhum: ele apenas expressa, desde Lenin, a velha prática do poder esquerdista de devorar os próprios aliados.
...
*Ipojuca Pontes, cineasta e jornalista, é autor do livro "Politicamente Corretíssimos"
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Comentário de antonio pontes (brandwain@terra.com.br) Em 10/03/2009, 18h59
mentira
É uma mentira despudorada que Ipojuca Pontes tenha "enterrado o cinema" brasileiro, conforme expressa o comentário em anexo.
Ipojuca ajudou a fechar, sim, o cinema financiada pela corrupta Embrafilme, que alimentava apenas 22% da produção de filmes no Brasil, até janeiro de 1980.
E na Era Collor, foram produzidos 105 filmes de longa-metragem, conforme registram e provam o Dicionario do Cinema Brasileiro, de Antonio Neto, e os próprios arquvos da Secretaria do Audiovisual do Minc. É só conferir.
Antonio Pontes