Afinado com Obama, Lula "administra" Chávez e Evo 17/04/2009
- Blog de Josias de Souza - Folha Online
Começa nesta sexta (17), em Trinidad e Tobago, a 5ª Cúpula das Américas.
Reunirá 34 chefes de Estado. Cuba não participa. As duas estrelas são Obama e Lula.
Mas dois coadjuvantes –Hugo Chavez e Evo Morales— ameaçam roubar a cena.
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O blog conversou com dois assessores do governo brasileiro.
Um serve no Itamaraty. Outro, no Planalto, na assessoria do presidente.
Informaram o seguinte:
1. Lula vai à cúpula mais “afinado” com Obama do que com os velhos “companheiros”.
2. O debate vai girar em torno de um comunicado cujo copião está pronto.
3. O texto contém tópicos caros ao Brasil, com os quais os EUA puseram-se de acordo.
4. O principal deles é a defesa da cooperação no desenvolvimento de fontes limpas de energia.
5. Mercador do biocombustível, Lula vê na simples menção uma janela de oportunidades.
6. Na fase em que o debate esteve restrito às chancelarias, a Bolívia levou o pé atrás.
7. Queria injetar no texto um alerta sobre os supostos riscos que o biocumbustível impõe à produção de alimentos.
8. Grande produtora de petróleo, a Venezuela tampouco demonstrou entusiasmo pelo pedaço do documento dedicado aos combustíveis limpos.
9. Os negociadores americanos adotaram posição inversa. A busca de fontes alternativas de energia é compromisso de palanque de Obama.
10. O grande receio de Lula é o de que Chávez e Evo tentem converter Cuba em tema central da Cúpula.
11. Embora também defenda a suspensão do embargo de 47 anos que os EUA impõem à ilha dos irmãos Castro, Lula age para evitar constrangimentos a Obama.
12. Recoberto de elogios, renovados por Obama em entrevista à CNN, Lula conversou com o "neocompanheiro", por telefone, nesta quinta (16).
13. Lula sugeriu a Obama que fizesse novos gestos em relação a Cuba. Uma forma de desintoxicar o tema.
14. Obama, porém, acha que a bola está com Havana. Fez um primeiro gesto ao derrubar restrições que Washington impunha aos imigrantes cubanos.
15. Autorizou-os, por exemplo, a viajar livremente para Cuba. Liberou o envio de dólares e mercadorias aos familiares que vivem na ilha.
16. Quanto à suspensão do embargo, Obama alega que depende da disposição de Havana de reconciliar-se com os princípios democráticos.
17. Para desassossego do governo brasileiro, Chávez tornou-se um problema já na véspera do encontro.
18. O “companheiro” disse que não vai assinar o comunicado oficial da Cúpula. Por quê? Respondeu –ou tentou— em “bolivarianês”, a língua que só ele entende:
19. Afirmou: “É uma declaração que é difícil de assimilar, está totalmente deslocada no tempo e espaço...”
“...São declarações muito parecidas [com as feitas no] ano de 2001 [...]. Essa declaração a Venezuela veta agora mesmo".
20. A referência a 2001 evoca um encontro ocorrido no Canadá. Uma reunião em que os EUA defenderam a criação da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas).
21. O diabo é que nem Obama parece interessado em quebrar lanças pela Alca. Mostra-se mais compenetrado no debate de saídas para a crise global. Uma encrenca "made in USA".
22. De resto, Chávez abespinhou-se com referências elogiosas à OEA. O comunicado atribui à organização papel de destaque na costura de “soluções pacíficas” para os conflitos.
23. O documento realça também a defesa que a OEA faz dos valores democráticos. Algo de que Chávez discorda vivamente.
24. Ele acusa a entidade de ter apoiado a malsucedida tentativa de golpe de Estado que se armou contra ele em 2002. “Até hoje a OEA não condenou o golpe", reclama.