O retrato do supletivo 29/05/2009
- O Estado de S.Paulo
Extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada no último trimestre de 2007, por 2 mil pesquisadores que visitaram 147 mil residências e entrevistaram 400 mil pessoas, os últimos números do IBGE sobre educação mostram que a política governamental de ensino profissionalizante para jovens e adultos vem contribuindo muito pouco para a qualificação dos trabalhadores brasileiros.
Segundo as projeções do estudo, dos quase 8 milhões de estudantes matriculados em cursos "supletivos", mais de 3,9 milhões abandonam a escola antes de se diplomarem, alegando problemas financeiros, falta de interesse, insatisfação e dificuldade para acompanhar as disciplinas, horário de aulas incompatível com afazeres domésticos e necessidade de trabalhar. A região com mais desistentes foi a Sudeste, seguida pela Nordeste e pela Sul.
O supletivo, agora chamado de Educação de Jovens e Adultos (EJA), é destinado a quem decidiu voltar a estudar, depois de ter abandonado as salas de aula antes de se formar no ensino fundamental ou no ensino médio, para tentar obter um diploma e conseguir melhores oportunidades de trabalho. Essa modalidade de ensino foi concebida para oferecer cursos de formação básica para quem não concluiu a 4ª série, além de cursos de aperfeiçoamento de trabalhadores e cursos técnicos de nível médio. São cursos noturnos, de duração variável e, em muitos casos, sem exigência de escolaridade prévia.
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A maior procura é pelos cursos de aperfeiçoamento. Segundo a pesquisa do IBGE, cerca de 80% dos estudantes de supletivo optam pelos cursos de qualificação profissional. Do total de alunos que frequentam supletivo, 22,4% estão matriculados na rede escolar pública e 20,6% na rede de ensino vinculada ao chamado "Sistema S", como o Sesi, Senac, Senat e Sebrae. Os demais estudam em cursos profissionalizantes oferecidos por instituições privadas, entidades religiosas, sindicatos trabalhistas, movimentos sociais e organizações não-governamentais.
Os alunos dessa modalidade de ensino, em sua grande maioria, têm mais de 15 anos e são trabalhadores pouco qualificados, que geralmente chegam exaustos à sala de aula, depois de um dia de trabalho e ainda perdem muito tempo no deslocamento entre o local do trabalho e o do curso e no trajeto para casa. "É uma população que já tem uma história escolar muito truncada. Às vezes, a pessoa repete de ano no ensino regular, desiste e depois volta a estudar. Ou, então, é uma menina que se torna jovem mãe. A característica comum desses estudantes é a história de vida truncada", diz Márcio da Costa, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As próprias autoridades educacionais reconhecem que o atual formato dos cursos de educação básica, técnica ou profissionalizante oferecidos a jovens e adultos é deficiente. "Nós ainda ?escolarizamos? excessivamente o EJA. Há uma estrutura de currículos muito rígida, o que tende a infantilizar os alunos", diz André Luiz Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, depois de lembrar a necessidade de se rever os currículos dos cursos supletivos.
Essa revisão é fundamental para o futuro do País. Como a maior barreira que as pessoas enfrentam para se inserir no mercado de trabalho é a baixa qualificação, um supletivo com qualidade e currículos mais flexíveis aumentaria as oportunidades de ascensão de jovens e adultos. Além disso, o baixo nível educacional da população tem sido um dos entraves para o crescimento, como ficou evidente com o aquecimento da economia, antes da crise financeira mundial, quando as empresas brasileiras enfrentavam graves problemas de falta de mão de obra qualificada.
Apesar de confirmar o que já se sabia, a pesquisa do IBGE é um levantamento estatístico importante para balizar as reformas educacionais de que o País necessita para formar capital humano - condição básica para que possa ampliar sua presença nos mercados internacionais, quando a economia mundial retomar o crescimento.