Minc elogia "ecopresidente", que não o garante no cargo 06/06/2009
- Simone Iglesias - Folha de S.Paulo
Apesar do clima de camaradagem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Carlos Minc (Meio Ambiente), o ministro voltou a criticar os ruralistas, ontem na Bahia, no primeiro evento público em que ambos participam juntos depois da série de críticas públicas feitas pelo titular da pasta ambiental. Lula foi evasivo quanto ao futuro do ministro.
Em entrevista após evento pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, Lula foi questionado se Minc permanecerá no governo. Ele não disse que sim nem que não e ressaltou que não tem sentido ministros se enfrentarem.
"Não tem nenhum sentido que haja briga entre dois ministros porque não é necessário. Se tem divergência, é colocada na mesa do presidente e a gente resolve", disse.
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Lula afirmou que vai reunir Minc e o ministro Reinold Stephanes (Agricultura) nos próximos dias. "Quando um pai tem muitos filhos e o pai sai de casa os filhos fazem algazarra, brigam entre si. Eu pretendo reunir os filhos para que se coloquem de acordo", afirmou.
Dentro e fora do palanque, Minc riu das piadas de Lula e complementou frases do discurso do presidente. "Esse é meu presidente ecológico, meu ecopresidente", disse.
O ministro voltou a criticar os ruralistas. Ao discursar na frente de Lula disse: "O governo governa para o Brasil e não para a bancada ruralista".
Minc decidiu atacar outros ministros do governo, especialmente Stephanes e Alfredo Nascimento (Transportes), depois de uma série de derrotas de sua pasta. Uma foi a redução, determinada por Lula, na taxa de compensação ambiental cobrada de empresas.
Carecas
Lula afirmou que os países ricos têm que pagar ao Brasil para ajudar na preservação da floresta e os chamou de "carecas" por não terem árvores. "Não podemos aceitar o discurso simplista deles [países ricos] que temos apenas que preservar. É preciso que os países ricos que já desmataram toda sua floresta comecem a pagar para que a gente preserve a nossa."
O presidente disse que só concebe política ambiental se ela possibilitar melhoria de vida para as pessoas mais pobres e o equilíbrio entre ambientalistas e empresários radicais.
Minc criticou o excesso de resorts no litoral. "Em muitas praias do Nordeste chega primeiro o resort, depois o campo de golfe e a tartaruga já está comendo bola de golfe achando que é ovo de gaivota. O pescador vira empregado do clube de golfe e depois toma um pé na bunda e vai virar favelado porque perdeu a sua terra", disse.
O ministro disse ainda que vai sugerir a Lula que vete parte da medida provisória que regulariza terras públicas na Amazônia Legal. Segundo ele, a proposta enviada pelo Executivo ao Congresso foi "desfigurada".
"Antes dizia que era pessoa física [que poderia receber terras], e virou empresa. Antes, o sujeito tinha que morar no local, agora diz que pode morar em São Paulo e querer uma terra na Amazônia", afirmou.