Lula diz que só volta em 2014 se Dilma não for eleita 26/06/2009
- Josias de Souza - Folha Online
Presidente "torce" para que sua pupila tenha dois mandatos
Em entrevista concedida ontem, dia em que Dilma Rousseff se submeteu à última sessão de quimeoterapia, Lula mostrou-se otimista.
Ele concedeu um benefício à dúvida: “Doença é doença”. Mas disse que vem recebendo dos médicos notícias alvissareiras. E acrescenta:
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“Todo mundo que já teve esse tipo de câncer [linfático] diz que é curável. Dilma vai ficar extraordinária, e a hora que tiver de anunciar, estará pronta para o embate”.
Revelou que a ministra deixará a Casa Civil em março de 2010. “ Ela se afasta e começa a campanha”. Lula falou ao diário gaúcho Zero Hora (aqui e aqui).
Inquirido sobre a hipótese de disputar a presidência novamente em 2014, disse que só entra na briga numa hipótese:
“Se for um adversário que ganhar a eleição [de 2010], aí sim pode estar previsto em 2014 eu voltar”.
Do contrário, vai “torcer para que Dilma possa fazer o melhor [governo] e ser candidata à reeleição”.
Acha que, uma vez eleita, a ministra “tem o direito de querer ser candidata” a um segundo mandato. Vai abaixo um lote de frases de Lula:
- Alianças para 2010: Trabalho sempre com a hipótese de construir aliança entre PT e PMDB, PDT e PTB. Parte importante da base do governo precisa compor nos Estados para que a gente possa ganhar e governar [...]. Dilma tem de trabalhar com a possibilidade de um grande leque de alianças para ganhar bem e governar bem.
- PT X PMDB no Rio Grande do Sul: [...] Trabalho com a hipótese de que o PT tenha um leque de alianças no Rio Grande do Sul. Tarso Genro está numa posição muito confortável do ponto de vista das pesquisas. É sempre muito difícil você convencer alguém que está liderando a sair para dar lugar ao segundo ou ao terceiro [...]. Mas ainda assim estou convencido de que é possível construir uma aliança que envolva PMDB, PDT, PTB e PC do B. Se não der certo, temos de ter maturidade de saber como vamos nos tratar no primeiro turno. Sempre há possibilidade de essa aliança se concretizar no segundo turno.
- Alianças nos outros Estados: [O raciocínio] vale para todo o país. E nem acho que seja sacrifício [para o PT ceder posições a outras legendas]. Não temos o direito de não fazer sacrifício e permitir que o desejo pessoal de alguém prevaleça sobre os interesses coletivos de um partido, seja estadual ou nacional. É preciso um debate para saber o seguinte: o que nos interessa neste momento, quais os Estados que temos de disputar, em quais temos chance, que tipo de aliança poderemos fazer e o que queremos construir. Se fizermos essa discussão corretamente, fica fácil construir as alianças [...]. Essa minha concepção vale do Oiapoque ao Chuí. Mas quem decide isso são os partidos. Eu só espero que as pessoas tenham aprendido.
- A mídia e o Senado: Não critico a imprensa por conta do Senado. É pelo denuncismo desvairado que às vezes não tem retorno. Há uma prevalência da desgraça sobre as coisas boas. Talvez venda mais jornal [...]. A nação precisa de boas notícias, de autoestima, para poder vencer esse embate com a crise internacional.
- As malfeitorias do Senado: Sobre as denúncias no Senado, que se faça uma investigação, se apresente o resultado. Quem estiver errado deve ser punido, e mata o assunto. Todos os senadores têm mais de 35 anos de idade, portanto estão na idade adulta. Sarney já anunciou que vai investigar.
- A defesa de Sarney e 2010: Não acho que algum senador vá renunciar ao mandato. Eles vão se acertar e prestar contas. A minha cabeça não trabalha pensando em 2010. Agora, tenho clareza de que nós sairemos bem em 2010 se a gente estiver bem em 2009.
- A doença de Dilma: Por tudo que eu tenho conversado com os médicos, eu não acredito [em prejuízo político]. Mas doença é doença. No momento certo o médico vai dizer se parou ou não o tratamento [...]. Todo mundo que já teve esse tipo de câncer diz que é curável. Dilma vai ficar extraordinária, e a hora que tiver de anunciar, estará pronta para o embate. Se ela for candidata – porque depende ainda dos partidos e dela própria –, aí a partir de março ela se afasta e começa a campanha.
- Palocci na Casa Civil: Não, não, não. Eu não posso discutir agora o que vou fazer. Mas não pretendo colocar nenhum ministro novo.
- O ministério de 2010: Não vou trazer uma pessoa para chegar sem conhecer o histórico do próprio ministério, das obras, dos projetos. Desse jeito irei paralisar o governo por 10 meses. Na hora em que o ministro for sair [para se candidatar], o secretário executivo assume.
- A volta em 2014: Eu tenho de recusar discutir 2014, porque não seria benéfico para mim e não seria benéfico para quem eu quero eleger. Vamos supor que eu eleja a companheira Dilma candidata do PT e o povo brasileiro eleja Dilma presidente do país. Ora, qual é o meu papel? É trabalhar para que ela faça o máximo possível. E ela tem o direito de querer ser candidata à reeleição [...]. Vou torcer para que Dilma possa fazer o melhor e ser candidata à reeleição. Se for um adversário que ganhar a eleição, aí sim pode estar previsto em 2014 eu voltar.
- A crise e a torcida da oposição: [...] Teve gente que até acendeu vela para o Brasil ser afetado. Uns queimaram a língua, outros queimaram os dedos. Quando deixar o governo, vou montar um grupo para pesquisar as análises econômicas que fizeram sobre o meu governo, para saber quem errou e acertou [...]. Tomamos todas as medidas necessárias e somos reconhecidos no mundo inteiro.
- A CPI da Petrobras: Se tem um fato determinado, diga e faça a CPI. O que não pode é, de forma irresponsável, pegar a mais importante empresa do país e tentar, um ano antes das eleições, achincalhar essa empresa. O que se propôs não tem nada de seriedade [...]. Acho que CPI não pode ser feita para fins apenas de disputas eleitorais [...]. Acho que a Petrobras devia ser investigada pelo Tribunal de Contas da União, pelo Ministério Público, pela Procuradoria-Geral da República.