Embora tenha batido novo recorde, com um total de 4,576 milhões de inscritos, ante 4,018 milhões no ano passado, o número de candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009 ficou bem abaixo dos 6 milhões a 7 milhões que haviam sido estimados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o órgão responsável pela elaboração, aplicação e correção do teste. Com boa imagem e enorme credibilidade na comunidade estudantil, o Enem foi aplicado pela primeira vez em 1998, quando avaliou cerca de 157 mil alunos do ensino médio.
Com 180 questões de múltipla escolha, envolvendo ciências humanas, ciências da natureza, matemática, redação e linguagens e códigos, o Enem deste ano será aplicado nos dias 3 e 4 de outubro, em 1.619 municípios, e os resultados serão divulgados a partir da segunda quinzena de janeiro do próximo ano.
Além de ser obrigatório para os estudantes pobres e carentes que quiserem concorrer a uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), que custeia, total ou parcialmente, as mensalidades em instituições particulares e confessionais, a partir deste ano o Enem também servirá como processo seletivo para cerca de 40 das 55 instituições federais de ensino superior, que aderiram à proposta de unificação dos vestibulares que o Ministério da Educação (MEC) apresentou há quatro meses. A iniciativa foi inspirada no sistema adotado nas universidades americanas, e consiste numa prova com validade nacional, que permite aos aprovados escolher o curso e a universidade conforme a pontuação obtida.
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Algumas universidades federais pretendem utilizar o Enem de 2009 como prova única para seus vestibulares. Outras irão adotá-lo apenas na primeira fase de seus exames de acesso (a segunda fase envolveria provas com questões sobre disciplinas mais específicas, como ciências exatas). Até o ano passado, as notas do exame, que compreendia uma redação e somente 63 questões, valiam apenas como pontos nos vestibulares de cerca de 500 universidades privadas, confessionais e públicas.
Um dos fatores que levaram o número de candidatos ao Enem de 2009 a ficar muito abaixo das expectativas do Inep foram as dificuldades enfrentadas pelos estudantes para fazer sua inscrição, que a partir deste ano passou a ser feita somente pela internet (até o ano passado, a inscrição também podia ser feita em agências dos Correios). A lentidão na página eletrônica do programa foi tanta que a direção do Inep foi obrigada a prorrogar por 48 horas o término do prazo de inscrição. Durante 35 dias, foram registrados quase 7 milhões de acessos. Para o MEC, muitos estudantes deixaram para se inscrever no último dia, o que teria sobrecarregado o site do Enem.
Outro fator apontado para a não confirmação das estimativas do MEC para o número de inscritos foram as mudanças efetuadas na estrutura e no conteúdo da prova, que a tornarão mais complexa e analítica, permitindo uma avaliação mais rigorosa das competências e das habilidades dos candidatos. Como essas alterações só foram divulgadas no final do primeiro semestre, muitos estudantes reclamaram das alterações com o "jogo em andamento", optando por fazer o Enem a partir de 2010, já preparados para o novo formato do teste.
No Enem de 2009, o número de inscritos cresceu em todas as unidades da Federação, com exceção de São Paulo e de Roraima. A queda de 5,45% nas inscrições de candidatos de São Paulo está sendo atribuída pelos especialistas ao fato de as universidades federais não terem no Estado a mesma importância que têm nas demais regiões do País. Em São Paulo, as três universidades públicas mais procuradas - a USP, a Unicamp e a Unesp - não aceitaram converter o Enem de 2009 como prova única ou primeira fase de seus exames vestibulares, como ocorre com vários cursos da Universidade Federal do ABC, da Universidade Federal de São Paulo e da Universidade Federal de São Carlos. Isso, contudo, em nada compromete o Enem, que é, 11 anos após sua criação, um dos mais bem-sucedidos mecanismos de avaliação escolar já adotados no País.