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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O último gargalo
27/07/2009 - Ben Sangari*

Se sobreviver às mudanças, o vestibular completará cem anos em 2011. Não é de admirar que ainda gere algum apego e defesa, por parte de interesses ligados à sua existência e subsistência. Mas não deveria ser assim. O vestibular é o último gargalo que impede o desenvolvimento da qualidade na educação brasileira, entre várias razões, porque simboliza tudo o que agora é considerado obsoleto na era do conhecimento. Sua extinção inevitavelmente introduziria uma nova etapa de mudanças, cujo impacto chegaria até o ensino fundamental. Um eventual fim do vestibular merece, portanto, ser reconhecido como marco histórico, a preparar o terreno para que o Brasil trilhe mais celeremente o longo caminho rumo a um sistema educacional compatível com as exigências e os desafios que a juventude enfrenta no século 21.

O Ministério da Educação (MEC) parece estar atento às necessidades dos novos tempos e dá provas disso ao reformular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - criado em 1998 para avaliar o desempenho do estudante ao final de sua formação básica - e propor que o exame sirva também como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais, ou seja, no lugar do tradicional vestibular. O Ministério aponta, entre os principais objetivos dessa proposta, induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. Faz todo o sentido. Afinal, de que adianta apenas reformular currículos, se diversos exames pré-universitários permanecem fiéis a métodos obsoletos de seleção?

Eliminado o gargalo do vestibular, haveria, de fato, maior estímulo à reestruturação dos currículos do ensino médio. Isso, evidentemente, implicaria mudanças ousadas, porém necessárias. É mesmo preciso abandonar, de uma vez por todas, visão ultrapassada do processo de ensino e aprendizagem e adotar nova abordagem, mais coerente com a atualidade, sobretudo de crianças e jovens.


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A esse respeito vale a pena consultar a Matriz de Referência do novo Enem, documento que serve de guia para a elaboração dos itens da prova. Ela está organizada nas quatro áreas que comporão o novo exame: linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. O novo Enem exigirá os mesmos conteúdos cobrados nos atuais vestibulares, mas os estudantes, de agora em diante, precisarão empregar mais a capacidade de raciocínio e compreensão do que a de memorização.

Tome-se como exemplo a formação em ciências - área em que o Brasil tem experimentado sucessivos fracassos nas avaliações internacionais do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e desempenho pífio em relação a outros países em desenvolvimento, como a Coreia do Sul. A matriz do novo Enem tem cinco eixos cognitivos: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas. Todos os cinco eixos têm relevância para o ensino e o aprendizado das ciências, mas dois deles sobressaem: compreender fenômenos e enfrentar situações-problema. O primeiro implica "construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas". O segundo prevê "selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema".

A proposta do novo Enem veio, portanto, ao encontro da expectativa de expressiva parcela da comunidade de educadores, tanto do Brasil quanto de fora, que já vem desenvolvendo recursos pedagógicos mais adequados à realidade atual dos estudantes e professores, como a "metodologia da investigação". O princípio desse método é justamente a construção de conhecimentos gerados pela necessidade de resolver problemas e capazes de mobilizar ações mentais que permitam o surgimento de uma visão mais ampla, complexa e crítica da realidade desde os primeiros anos escolares. Esse processo pedagógico envolve mudanças conceituais e promove o desenvolvimento da cultura científica do estudante mesmo antes do ensino médio. Orienta-se pela organização de situações de aprendizagem que favoreçam a articulação, a reformulação e a ampliação dos conhecimentos que os alunos já possuem, a partir de obstáculos que os levem a refletir sobre o mundo à sua volta.

Nesse sentido, nunca será demais lembrar que a educação básica, desde os primeiros anos da educação infantil até o ensino médio, está organizada em graus de ascendente complexidade, de modo que uma formação sob esses novos princípios, ainda nos anos iniciais, projeta e condiciona o êxito nos graus subsequentes. Portanto, a adoção de metodologias como a da investigação só reforçaria as expectativas do MEC de reformar o currículo do ensino médio, tornando-o inovador e à altura das mudanças que se operam hoje em toda a sociedade. Com uma educação fundamental de qualidade, compatível com as demandas do mundo contemporâneo, o estudante estará mais bem preparado, não apenas para cursar um ensino médio inovador e ter bom desempenho no Enem, como também para seguir com êxito os cursos universitários.

Como se vê, todo o processo está articulado. A reformulação do Enem pode gerar novas demandas aos anos escolares que o antecedem, como num efeito cascata retroativo. As vantagens de adotar o novo Enem, inclusive como forma de seleção para os cursos superiores, parecem superar as desvantagens - com a perspectiva de que é sempre possível corrigir desacertos, quando necessário. É preciso aceitar que o vestibular já cumpriu seu ciclo. Não há por que completar um século.

...

*Ben Sangari, físico, é presidente da Sangari do Brasil

  

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