Histórico de polêmicas será desafio de Marina 17/08/2009
- Clarissa Oliveira e Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo
Apontada por políticos, ambientalistas e até inimigos como exemplo de coerência ideológica e de firmeza na defesa de seus ideais, a senadora Marina Silva (PT-AC), provável candidata do PV ao Palácio do Planalto, protagonizou discussões polêmicas ao longo de sua trajetória política que deverão servir de munição a seus adversários na corrida eleitoral de 2010.
Evangélica e missionária da Assembleia de Deus, Marina chamou a atenção no início do ano passado, ao cobrar uma "educação plural", com a inclusão do estudo do criacionismo na grade curricular. Em um simpósio, a então ministra do Meio Ambiente defendeu que a versão bíblica de que os homens foram criados por Deus seja lecionada ao lado do evolucionismo de Charles Darwin.
Em assuntos que envolvem religiosidade, Marina defende uma postura mais conservadora. Ela é, por exemplo, radicalmente contra o aborto. Em 2005, a senadora também fracassou num esforço para barrar a Lei de Biossegurança, que tratava de pesquisas com células-tronco e transgênicos.
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Ainda ministra, Marina bateu de frente com a equipe de Lula em mais de uma ocasião. O caso mais notório foi a divergência com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre licenças ambientais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Bem antes disso, ela não escondia em conversas de corredor a insatisfação com a política econômica no início do governo. Um exemplo mais recente, já de volta ao Senado, foi sua discordância em relação à MP 458, sobre a regulamentação de terras na Amazônia.
Marina costuma não tratar publicamente de temas econômicos. Algumas de suas posições, no entanto, ficaram conhecidas nas votações no Congresso. Na oposição ao tucano de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, ela acompanhou colegas como Antonio Palocci (PT-SP) e votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
DISCURSO
Mesmo entre entusiastas da candidatura de Marina, não há duvida de que ela terá de ampliar o discurso. "Marina não é uma xiita. Um dos pontos positivos para ela numa eventual candidatura vai ser a capacidade de manter a coerência", diz o professor de história ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Augusto Pádua.
Entre as sugestões que já circulam para compensar a falta de trânsito na área econômica, está a receita de Lula para se eleger presidente: ter um empresário como vice. Outra análise é a de que Marina não deve bater de frente com o agronegócio. Melhor defender o investimento em ciência e tecnologia, para aumentar a produtividade agrícola e evitar o avanço sobre as florestas.
"A candidatura de Marina vai dar densidade político-eleitoral aos nossos temas. Mas é fundamental que ela tenha no centro da campanha mais do que ambientalismo. O tema tem de ser economia verde", avalia o ex-deputado Fábio Feldmann, autor do capítulo da Constituição sobre meio ambiente.
Amigos dizem que Marina reúne as credenciais para criar um amplo programa no PV. "Ela tem uma visão muito positiva de modernização da máquina pública", exemplifica Sibá Machado (PT-AC), seu suplente no Senado. Dizendo-se "amigo de longa data" da senadora, o diretor da ONG SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, diz esperar de Marina a mesma "transversalidade" adotada no ministério. "Ela nunca se restringiu apenas à área dela. Sempre exigiu muito de todos os ministérios."
O QUE PENSA MARINA
Criacionismo: Muito religiosa, já disse que não há "demérito" no ensino do criacionismo nas escolas e que a teoria darwiniana (evolucionismo) deixa questões em aberto. Chegou a dizer que "no espaço da fé, a ciência tem todo o acolhimento. Eu gostaria que a fé tivesse o mesmo acolhimento da ciência".
Economia: No início do governo Lula, engrossava o coro por uma política fiscal menos rígida, em especial em temas como o superávit primário. É também crítica feroz da desregulamentação dos mercados, à qual atribui a crise econômica. Considera importante uma atuação forte do Estado.
Transgênicos e Aborto: Evangélica, batalhou para barrar a pesquisa com células-tronco e transgênicos, mas foi derrotada na votação da Lei de Biossegurança. Se opõe à descriminalização do aborto. Em 2001, deveria relatar um projeto na Comissão de Assuntos Assuntos Sociais, mas renunciou ao posto.
Educação: É a favor da implantação de políticas de inclusão de minorias no sistema público de ensino, por meio de ferramentas como as cotas nas universidades - ex-empregada doméstica e negra, era analfabeta até os 16 anos. Defende também o reforço à educação ambiental nas escolas.
Social: É forte defensora de políticas de transferência de renda, como o Bolsa-Família do governo federal. É dela, por exemplo, a ideia de implantar um projeto semelhante durante a primeira administração do ex-governador do Acre Jorge Viana, chamado Adjuntos da Solidariedade.
Contas Públicas: Esteve entre os petistas que, fazendo oposição ao governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, votaram contra o projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal. O projeto resultou em mecanismos para disciplinar as contas públicas dos governos.
Questão Fundiária: É radicalmente contra a MP 458, que trata da regularização de terras na área conhecida como Amazônia Legal. Aliados da senadora garantem que, se eleita presidente, ela provavelmente pedirá imediatamente uma revisão dessa medida.