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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Copom: a Selic não mudará tão cedo
04/09/2009 - Gastão Alves de Toledo

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 8,75% ao ano não surpreendeu, dada a quase unanimidade no mercado sobre esse posicionamento das autoridades.

Mas o comunicado da reunião trouxe novidades. Lembra que as perspectivas para a inflação continuam alinhadas com sua meta, registra que a flexibilização da política monetária teve os efeitos esperados e que a ociosidade dos fatores de produção (o nível de utilização da capacidade de produção - UCI) permite uma retomada da atividade econômica sem inflação.

Todavia, há no vocabulário usado pelo comitê uma expressão nova que reafirma a intenção das autoridades de manter por muito tempo a taxa Selic: “Horizonte relevante.”


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Expressão que pode ter interpretações diferentes. É tradição, entre os bancos centrais, não modificar a taxa básica de juros na véspera de campanha eleitoral, como a que Lula antecipa. Assim, pode-se pensar que a Selic, salvo causas excepcionais, não se modificará antes de outubro de 2010. Foi em razão dessa perspectiva que o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, com uma firmeza que não tiveram outros presidentes de entidades de classe, declarou que “analisando os mercados, eu comecei a compreender Meirelles e passei a defendê-lo”.

A palavra “relevante” poderia ter outra interpretação, se precedida da palavra “fato” (no lugar de “horizonte”). Acredita-se que na visão do Copom foi proposital deixar essa dúvida.

Na conjuntura econômica atual, a grande preocupação das autoridades monetárias deve estar na expansão monetária que as decisões demagógicas do governo estão favorecendo. O Copom foi sempre muito cauteloso nas críticas à política do governo marcada por uma expansão preocupante das “transferências governamentais”, que poderão desencadear um novo surto inflacionista.

Seria certamente desejável que, na ata da reunião - que ainda sairá -, as autoridades monetárias manifestassem mais enfaticamente sua preocupação acerca desse assunto. No exterior, o presidente do Banco Central (BC) reconheceu que cabe ao Copom não apenas cuidar da inflação, mas também da política fiscal.

É oportuno, finalmente, lembrar que não é só com a Selic que o BC administra a política monetária: os depósitos compulsórios representam um instrumento usado até agora com excessiva prudência, mas que continua a existir.

  

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