De passagem rápida pelo Brasil, ouço que as principais mazelas que aterrorizam as classes média e rica continuam as mesmas: violência e trânsito. O último também sempre à beira de uma explosão de violência.
Mas, em conversa com o economista-chefe de um dos maiores bancos do país, também ouço a previsão de que o Brasil pode crescer 5,5% em 2010. Um geólogo de uma grande empreiteira fala em iminente falta de engenheiros para tocar projetos a caminho. Um funcionário do setor de energia diz que poderia optar por morar em vários Estados, tamanhas as opções de trabalho.
No Rio, porém, o tráfico ainda derruba helicópteros, adolescentes se jogam no chão para se proteger de balas perdidas e apareceu até corpo em carrinho de supermercado. Teve também o caso do bem-feitor social morto por bandidos depois roubados por policiais militares.
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Em São Paulo, a cidade está mais agradável sem os outdoors, retirados pela incrível lei Cidade Limpa. Mas o trânsito segue caótico, assunto inescapável em qualquer conversa. É preciso pois um minucioso planejamento para ir e vir, com horários de contrafluxo, rotas alternativas e outros macetes. "Bom sinal", dizem, a violência paulistana ainda segue bastante contida nas distantes periferias.
Mas leio também que há R$ 90 bilhões em licitações programadas pelo governo até 2010, com uma montanha de investimentos vindos por ai. Já outro economista diz que o mercado de capitais (e a Bolsa) deve "arrebentar" nos próximos anos, multiplicando riquezas, investimentos e empregos.
O Brasil estaria a ponto de atravessar uma nova etapa em termos econômicos. A fase de sedimentação de boas políticas passou. Teria chegado o momento de crescer 5% ou 6% ao ano sobre 5% ou 6% ao ano um ano atrás do outro, por vários anos. Estaríamos próximos de virar um "trem-bala". Ele próprio, real entre Rio e São Paulo e tão óbvio, também muito perto de sair do papel.
Mas merece grave reparo que as mesmas classes que reclamam do trânsito passaram a comprar em massa jipes e carrões (as SUVs) que só entopem mais o trânsito. Sem falar que são um dos símbolos da decadência norte-americana. Que esses mesmos carros e seus motoristas (reparem) parecem mais bestiais do que o resto conduzindo, parando em locais proibidos ou desrespeitando regras básicas.
Que essas mesmas classes média e rica ainda pagam mal funcionários em empresas ou seus empregados domésticos (eles ainda existem), quando não deixam de recolher INSS ou não os tratam como vassalos medievais. Ainda há Brasileiros e brasileiros no Brasil.
OK, é preciso admitir: o Brasil está perto de virar um país de "primeira classe" (como quer Lula), mas só para os que têm e sabem ganhar dinheiro. No todo, está muito distante de se tornar civilizado.
Nossa elite, política e privada, ainda não entendeu do que isso se trata.
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*Fernando Canzian é repórter especial da Folha de S.Paulo