Mais múltis brasileiras 31/10/2009
- O Estado de S.Paulo
O Ministério do Desenvolvimento prometeu lançar, em dezembro, um programa para estimular a internacionalização da economia brasileira, segundo informou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Seria a primeira iniciativa concreta do governo para buscar o equilíbrio entre os ingressos e as saídas de capital, reduzindo o fluxo líquido de dólares para o País, após a decisão do Ministério da Fazenda -- com efeitos pífios, até o momento -- de impor a cobrança do IOF de 2% sobre as entradas de dólares na Bolsa e na renda fixa.
Estimular a internacionalização significa ampliar o número das companhias multinacionais com sede no Brasil -- caso de empresas privadas como Vale, Embraer, Gerdau, Votorantim, Aracruz, Marcopolo ou Weg, entre outras, e a estatal Petrobrás. Proporcionalmente às dimensões da economia brasileira, esse número ainda é pequeno.
Com a desvalorização do dólar de cerca de 25%, até agora, neste ano, em relação ao real, investir no exterior tornou-se mais barato para as companhias que faturam em reais. Mesmo assim, a evolução desses investimentos é lenta e declinante, segundo os dados do Banco Central: de US$ 11,9 bilhões, nos primeiros nove meses de 2008, caiu para menos da metade, US$ 5,8 bilhões, no mesmo período de 2009. Na indústria, os investimentos diretos do Brasil no exterior foram de US$ 7,6 bilhões, em 2008, e, neste ano, até setembro, limitaram-se a US$ 1,6 bilhão.
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Medidas tributárias, legislativas e administrativas estão sendo elaboradas pelos Ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda, o Itamaraty e o Banco Central, para entrar em vigor no ano que vem, com vistas a estimular a política de internacionalização, explicou Barral.
Nas negociações comerciais bilaterais, o Itamaraty passaria a incluir mecanismos capazes de estimular os investimentos brasileiros no exterior. E o Ministério do Desenvolvimento proporá um novo regulamento sobre a atuação das trading companies, pois a legislação, da década de 70, está ultrapassada.
Mas o governo terá de definir uma política bem estruturada e de longo prazo para o setor externo -- o que, até agora, não tem demonstrado capacidade de fazer.
Barral argumentou, sexta-feira, que o câmbio ficou mais estável em todos os momentos em que se elevaram os investimentos das empresas brasileiras no exterior. De fato, em 2006, quando a Vale investiu US$ 13,2 bilhões na compra da mineradora Inco, do Canadá, a desvalorização do dólar em relação ao real foi de apenas 8,6%. Mas o presidente Lula quer que a Vale invista mais no Brasil e menos no exterior, sem levar em conta o impacto no mercado cambial.
O Brasil não inova ao estimular a internacionalização da economia, pois esta é a política de países como a China e a Índia. No passado, também foi a política de países industrializados, como o Japão, que, por exemplo, investiu pesadamente em montadoras nos Estados Unidos. Esses países se tornaram altamente superavitários -- e o aumento dos investimentos diretos no exterior foi a maneira encontrada para evitar uma desvalorização excessiva do dólar, que pusesse em risco a exportação.
O Brasil atrai volume crescente de investimentos diretos, que passaram de US$ 15,1 bilhões, em 2005, para US$ 18,8 bilhões, em 2006; US$ 34,6 bilhões, em 2007; e US$ 45,1 bilhões, em 2008, cedendo com a crise, neste ano. Os recursos contribuíram para manter em níveis baixos o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos.
Desde 2007, o ingresso de dólares é muito maior do que a saída de cambiais. As reservas passaram de US$ 85,8 bilhões, em dezembro de 2006, para US$ 180,3 bilhões, em 2007, e chegaram a US$ 233,2 bilhões há uma semana.
Este ainda é um fenômeno relativamente novo na economia, habituada a déficits recorrentes do balanço de pagamentos. Agora, acreditam especialistas, a perspectiva é de o superávit cambial continuar por longo tempo -- o que recomenda a adoção de políticas de estabilização da taxa cambial.
Mas todo o governo precisará estar convencido de que a internacionalização da economia brasileira é o melhor caminho.