As lições do concurso 28/11/2009
- ONOFRE RIBEIRO*
A anulação do concurso público estadual no último domingo, foi uma bomba. Recebi a notícia junto com uma solicitação do secretário de Comunicação, Eumar Novacki, para acompanhar o assunto, junto com o também secretário-adjunto da Secom, Júlio Varmórbida. Já vivi dezenas de outras crises maiores e menores do que esta. Mas, na hora, sempre dá um gosto de sangue na boca. E esta parecia muito maior, porque envolvia mais de 270 mil candidatos às vagas oferecidas no concurso.
Conversei bastante e participei da montagem da estratégia de explicação à opinião pública e ao próprio governo, já que as contradições eram muito maiores do que as certezas. Hoje, passados exatos seis dias da anulação, considero a crise superada e o assunto resolvido do ponto de vista moral e administrativo. Ficaram claros os erros de condução na parte final do concurso, quando provas chegaram errado às salas ou não chegaram a tempo. Talvez pelo elevado número de candidatos, a repercussão tenha sido tão grande. Mas não se pode esquecer que todos os tipos de concursos desde os tradicionalíssimos vestibulares, são potencialmente explosivos.
É muita gente envolvida, o risco de vazamento é permanente e, de repente, uma falha num ponto crucial produz conseqüências como as do último domingo. Não é demais lembrar concurso já realizado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso, realizado pela Universidade de Brasília-UnB, com perigosas denúncias de vazamento das provas. O mesmo já se deu em concurso para juízes no Tribunal de justiça. Denúncias de vazamento já acompanharam vestibulares na Universidade Federal de Mato Grosso. É momento de tensão e de convergência de interesses pessoais muito críticos.
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Porém, ao acompanhar a entrevista coletiva do governador Blairo Maggi, na terça-feira, senti as tensões diminuírem quando ele pediu desculpas públicas, anunciou que manteria a Unemat na elaboração das provas e o próprio governo na realização, além de dividir o concurso em duas fases, 31 de janeiro e 21 de fevereiro. Nas grandes crises, a regra consagrada para quem estiver conduzindo a estratégia é uma só: transparência. A opinião pública compreende situações mesmo as piores, desde que não se sinta enganada.
No caso do concurso, a decisão veio três dias depois com o anúncio da nova data, das mudanças que acontecerão e com o pedido de desculpas do próprio governador atraindo para si todos os desgastes e admitindo mesmo, que o acompanhamento poderia ter sido melhor a fim de evitar o que houve.
Mas agradou-me particularmente, a decisão de manter a Unemat no concurso. É uma universidade pouco conhecida em Cuiabá, mas de uma relevância extrema no interior do estado. Se ela fosse excluída, sua imagem não se recuperaria tão cedo. Ela tem experiência de muitos outros concursos anteriores, sem problemas. Para o próprio Ministério Público estadual a Unemat já realizou concursos com sucesso e correção. Já ministrei dezenas de palestras para a Unemat no interior do estado, e por isso, sou seu ferrenho defensor. Lá, onde outras universidades nunca iriam, ela está lá com os seus cursos, como o de graduação indígena, o primeiro na América do Sul, por exemplo. Porém, ficou claro que daqui para a frente a Unemat terá que ser mais atenta, menos complacente e não se arriscar mais como se arriscou nesse concurso. De sua vez, o governo deve entender que um concurso dessa dimensão é mesmo uma operação de guerra e não pode ser conduzido só com a atenção normal.
A verdade, é que foi uma grande lição que ficou para não se repetir esses erros evitáveis no futuro.
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*ONOFRE RIBEIRO, jornalista, é secretário-adjunto de Comunicação Social do Governo de Mato Grosso. onofreribeiro@terra.com.br