Mercado investe em Meirelles como opção para ser vice de Dilma 13/12/2009
- Márcio Haith - Folha de S.Paulo
Se o investidor internacional votasse no Brasil ou tivesse influência nas complexas engrenagens do PMDB, partido ao qual se filiou, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, poderia ser suavemente indicado a vice na chapa presidencial encabeçada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Num prazo de apenas duas semanas, Meirelles recebeu sinais eloquentes de prestígio do que se convencionou chamar de comunidade financeira global --um grupo formado por bancos, fundos de investimento e organismos multilaterais.
No último dia 2, técnicos do FMI (Fundo Monetário Internacional) definiram publicamente como "exemplar" o papel do brasileiro no combate à crise financeira mundial.
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Informa o copioso estudo da organização que se notabilizou por admoestar gerações de tecnocratas brasileiras desde a década de 80: "A aparente eficácia das medidas adotadas pelo BC do Brasil para garantir a liquidez em dólares sugere que elas podem se tornar instrumento padrão de bancos centrais".
Sete dias depois, o BIS, banco central dos bancos centrais, aceitou o Brasil como membro de um seleto grupo de países responsável por identificar fontes potenciais de estresse nos mercados financeiros.
De menino levado, o Brasil foi promovido a monitor do BIS. Motivo: a firme supervisão bancária brasileira, nas mãos de Meirelles e sua equipe.
Às duas distinções somam-se outros prêmios, convites e jantares com os quais bancos e investidores tentam demonstrar apreço ao ex-presidente do BankBoston no momento em que o presidente do BC tenta migrar da economia para a política após ter-se transformado num dos integrantes mais longevos do governo Lula.
No evento mais exclusivo ao qual compareceu, em setembro passado, no Reform Club, clube inglês fundado no século 19, Meirelles foi até instado por um dos anfitriões a candidatar-se não a vice de Dilma, mas à Presidência da República.
Com a onda de elogios e a recente menção de caciques do PMDB em escândalos, o nome Meirelles, cristão-novo no partido, volta a ser mencionado como alternativa para compor, com Dilma, a chapa PT-PMDB à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso, a declaração do presidente sugerindo que o partido entregasse a Dilma uma lista tríplice de possíveis vices foi lida por alguns como uma tentativa de inflar o nome do titular do Banco Central, o que causou uma imediata reação da cúpula do PMDB.
A própria ministra tem aventado cada vez mais essa possibilidade em encontros com o setor privado. Ao explicar como seria sua política econômica, caso seja eleita, Dilma travou, em uma dessas reuniões, o seguinte diálogo com Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco:
"Qual seria sua equipe econômica?", questionou o banqueiro. "Seria essa que está aí. Dizem até que o Meirelles pode ser meu vice", respondeu ela.
Surpreso, Moreira Salles insistiu: "E pode, ministra?" E ela: "Pode, uai. E por que não?"
Sem lastro
O problema para viabilizar a opção Meirelles é o enorme abismo que separa seu prestígio internacional de sua inexperiência no partido que escolheu para reentrar na política, em setembro passado -- ele teve curta experiência no PSDB, em 2002, quando foi eleito deputado federal, para logo renunciar.
Meirelles tem dito que aceitou de Lula só duas recomendações quando informou sua disposição de se filiar ao PMDB: não concorrer ao governo de Goiás e ficar no BC até março de 2010, prazo para a desincompatibilização das autoridades que vão disputar eleições.
Quanto à possibilidade de buscar a candidatura a vice de Dilma, Meirelles disse, numa entrevista em outubro, ser esta uma "oportunidade e destino, e não um ato de vontade".
Destino ou vontade, essa alternativa tem como principal obstáculo os "donos" do partido --além de Michel Temer, o líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e os deputados Eduardo Cunha (RJ) e Tadeu Filippelli (DF).
Até a semana passada, todos diziam que o PMDB "nunca" vai indicar Meirelles a vice.