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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

"O governo não chega aos bolsões de miséria"
13/01/2010 - Soraya Aggege - O Globo*

A médica Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral da Criança e representante da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no Conselho de Segurança Alimentar, faz duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo ela, o governo tem pisado nas ações da sociedade civil, burocratizado demais e se afastado dos miseráveis, que dependem da assistência social no país.

Zilda Arns elogia os ministérios da Saúde e da Fazenda, mas reclama da área social. Na opinião dela, o Fome Zero, se não for completamente reestruturado, poderá se tornar um retrocesso para o Brasil, principalmente neste ano eleitoral, segundo avaliou em entrevista ao GLOBO.


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Qual o seu recado para os céticos em 2004?

- Que procurem refletir sobre o que podem fazer para melhorar o país. Porque não adianta só criticar e dizer: “Ah, é o governo, é o governo…” Com as pessoas se engajando, o próprio governo, pressionado, começa a aplicar melhor os recursos. Se a gente ficar olhando o bonde passar, sem pôr a mão na massa, a gente não melhora o país.

Falando em governo, qual é a sua avaliação?

- Em algumas áreas o governo ainda não se encontrou. Na economia me surpreendeu, eu temia muito um desastre, mas foi melhor do que eu esperava. Na área da saúde o ministro está se saindo muito bem, pois tem dado continuidade. Agora, nas outras áreas, principalmente de assistência social, está muito fraco. E na educação eu também esperava mais.

O que tem acontecido de errado com a educação?

- Na alfabetização de jovens adultos, tínhamos 27 mil alunos e agora estamos com 11 mil e poucos. Quando fomos nos apresentar, eles haviam alterado algumas regras do jogo. Por exemplo, nós temos agora classes com cinco e outras com 30 alunos. Nos lugares com altos índices de analfabetismo nós abrimos vagas, queremos alfabetizar todos. São as nossas regras e o governo passado concordava, pois são as situações mais reais. Mas neste governo há muito mais burocracia. Agora tivemos que assinar um novo convênio, de modo que a cada mês temos que mandar uma pequena redação escrita. Quem é que vai analisar essas 11 mil redações, só da Pastoral, fora as das outras entidades? É um coisa absolutamente inviável, não é?

Trata-se de burocratismo?

- Não, acho que o pessoal não tem muito os pés no chão para o Brasil. Às vezes pisam em cima de ações comunitárias que estavam dando certo. Por exemplo, a alfabetização estava dando certo. Aí vem outra alfabetização em cima dessa e, de repente, não temos verbas.

A senhora também criticou a assistência social. Como a senhora avalia a atuação da ministra Benedita da Silva?

- Eu diria que não estou vendo o que foi feito.

Nada foi feito?
- Não sei se nada foi feito. Mas não estou enxergando o que foi feito. Eles não sabem bem o que estão fazendo.

E com relação aos outros projetos sociais? O Fome Zero, por exemplo?

- Estou no Conselho de Segurança Alimentar, embora, muitas vezes, tenha me ausentado por causa das mudanças de datas das reuniões. Mas começaram sem planejamento. Então impuseram algumas coisas que fracassaram e isso foi uma pena. Talvez, com um ano de aprendizado, possam melhorar. Agora, centralizar tudo num lugar só, sem pessoal, qualidade ou quantidade suficientes é risco de fracasso.

A senhora teme que muitos não recebam…

- Não temo, tenho certeza que não estão recebendo, eu vi. São pobres que não têm registro de nascimento. Podiam ter feito primeiro um grande cadastro da pobreza e, em seguida, implantar o cartão-escola, depois o alimentação, ir para os rincões, controlar as gestantes. Mas como é que vão controlar a gestante que não é mais gestante ou a criança que passou dos 6 anos? Quem fará todo esse controle? E o governo não chega realmente aos bolsões de miséria. Eu vou e pergunto e eles dizem que não estão participando dos projetos. Eles não têm nada. O governo poderia usar as entidades, como a Pastoral da Criança.

A senhora chegou a propor isso?

- Muitas vezes. Teoricamente as autoridades sempre aceitam, mas, na prática, dificilmente acontece.

E a corrupção?

- A Justiça é muito lenta. E há problemas. As associações de pais e mestres, por exemplo, poderiam fiscalizar mais as escolas, mas não estão sendo incentivadas. Falta ainda controle social do que entra e do que sai. Talvez a coisa esteja um pouco pior.

Na sua opinião, na prática, este governo está mais distante dos miseráveis do que o anterior?

- As grandes mudanças foram feitas no governo passado, com o Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e os projetos de amparo aos idosos e aos portadores de deficiência. Foi a grande mudança na área social, foi uma reviravolta. Só que teria que ser ampliado para todos. Este governo tinha que ter ampliado. Mas ele mudou um pouco e parou um pouco.

Mas a senhora considera que houve uma redução efetiva no número de miseráveis atendidos?

- Não. Mas eu diria que o que estava programado, como o atendimento às áreas indígenas, não ocorreu. Isso porque a Bolsa-Alimentação passou para Bolsa Família. Daí a burocracia demorou e não se chegou a atender.

Como a senhora acha que deve ser feita a reforma no Ministério, de modo a modificar a cobertura da área social?

- Precisa mexer, se ele (Lula) quiser ter sucesso. Só não pode mexer no ministro Humberto Costa (Saúde). Pois ele, apesar de ser muito discreto, está procurando levar o Sistema Único de Saúde para a frente. Ele está respeitando o controle social. Mas ainda falta muita coisa: remédios, qualificação de profissionais, acesso maior dos cidadãos ao sistema de saúde.

Comparando genericamente, então, que nota média a senhora dá para os governos Fernando Henrique e Lula?

- É difícil dar nota para o primeiro ano de um governo novo, de outro partido, com a maioria das pessoas administrando pela primeira vez na vida. Saúde e economia se deram bem. As outras áreas, não. Daria 6 na média. Para a área social, uns 5. Para o Fernando Henrique… Ele se saiu bem, mas o povo só vai saber daqui a dez, 15 anos.

Afinal, ideologicamente, qual é a sua posição?

- Não sou da direita nem da esquerda. Analiso com objetividade. Tanto faz direita ou esquerda, desde que ajude o povo.

E durante o regime militar, como irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, como se posicionava?

- Fui da Ação Católica, da Juventude Universitária Católica. A gente se reunia, discutia os problemas. Mas por índole, eu nunca fui de ir às ruas. Sempre levei uma vida muito assim, com a minha família e os filhos. Mas eu sempre me inteirava. Em 1977, quando morei com dom Paulo, eu fazia Faculdade de Saúde Pública e sempre o acompanhava. Vinham as mulheres, os homens, choravam muito e eu, muitas vezes, tinha que atendê-las. Olhe, eu participei muito da dor brasileira.

E o governo do PT, representa evolução no campo ideológico?

- Acho que o PT vai aprender muito no governo. Porque, na oposição, impediu muitos progressos.

Algum recado para o governo Lula?

- Lula pessoalmente está se esforçando e tem o dom da comunicação. Na área social, no entanto, seu governo atropela. O Fome Zero tem que ser todo revisto, com uma organização e planejamento melhor. E não pode atropelar. A gente não tem visto ainda nada, por exemplo, do Ministério das Cidades. Poderia dar maior contribuição, melhorando as grandes cidades com saneamento, habitação, lazer. Espero que ele tenha aprendido neste primeiro ano. E espero que o PT deixe o governo governar.

As eleições, os interesses do partido, podem atrapalhar as ações do governo?

- Podem. Se eles começarem a distribuir leite, como faziam no tempo do (ex-presidente) Sarney, haverá muita troca de voto por leite. Será um grande retrocesso. A gente espera que o Fome Zero dê mais valor às medidas estruturais e evite os gêneros alimentícios. É preciso dar dinheiro na mão, valorizar o comércio local e não humilhar o pessoal, que tem que ir pegar alimentos em determinados lugares ou nas escolas.

...

Edição do dia 5 de janeiro de 2004

  

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