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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Com Lula e sem oposição
03/02/2010 - O Estado de S.Paulo

Não há duas opiniões sobre os resultados da mais recente pesquisa sobre a sucessão presidencial -- a da CNT/Sensus, divulgada na segunda-feira. É unânime a avaliação de que a subida da ministra Dilma Rousseff diz quase nada do que o eleitor acha dos seus atributos administrativos, políticos ou pessoais.

Tampouco resulta de uma eventual comparação favorável com outros presidenciáveis. O fato que conta é ser ela a única candidata em campanha, carregada para cima e para baixo por um presidente cujo índice de aprovação está perto de 82%, o mais alto desde maio passado (assim como a avaliação positiva de seu governo, na casa de 71%).

O crescimento das intenções de voto em Dilma varia como que na razão direta do seu grau de exposição ao público -- aquele que é levado aos comícios para conhecer a "continuadora" da obra de Lula e aquele que a vê nos telejornais participando ao lado do presidente de mais uma inauguração ou vistoria fabricada exatamente para isso, como se fossem engrenagens de um rolo compressor. O eleitor só sabe da ministra o que o seu arrimo diz e nas circunstâncias que ele escolhe para dizê-lo.


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Nessa campanha antecipada -- uma espécie de transgressão institucionalizada da Lei Eleitoral e do princípio que veda o uso de bens públicos para fins políticos --, Lula é a figura absolutamente dominante.

A tal ponto que na pesquisa espontânea de intenção de voto (quando se pede ao entrevistado que diga um nome, em vez de lhe mostrar uma cartela com um punhado de alternativas), o Instituto Sensus apurou que o presidente impedido de disputar um terceiro mandato consecutivo ainda é o preferido de cerca de 20% dos brasileiros, o dobro dos que mencionaram Dilma ou o governador tucano José Serra. A maioria, em todo caso, não soube ou não quis responder. A ministra deve o que tem -- 28% em um cenário que inclui Ciro Gomes, do PSB, e 29% sem ele, ante 33% de Serra numa hipótese e 41% na outra -- à "determinação" de Lula em promover a sua candidatura, como diz um correligionário de Ciro, o senador Renato Casagrande.

Essa determinação é o ar que o presidente respira dia e noite. Dele se pode dizer que nada que diga respeito às chances de emplacar a sua escolhida lhe é estranho. E nenhuma outra questão se sobrepõe a isso, a começar do cumprimento do calendário eleitoral que ele transforma em peça de ficção. As viagens que já disse que continuará fazendo, a pretexto de fazer as coisas andar -- "o olho do dono engorda o porco", disse há pouco --, são apenas a ponta visível da montanha de ações que empreende a favor da ministra. Ele não se limitou a enquadrar o partido e atrelar o governo à sua candidatura. Com um desvelo que nunca demonstrou pelas servidões do seu cargo, cuida da sintonia fina do preparo da campanha.

Quando se ocupa de assuntos de economia interna do PT ou enfrenta dilemas no governo, guia-se invariavelmente pela pergunta: "Que será melhor para Dilma?" Isso para não falar do problema por excelência da sucessão: a adesão do PMDB à candidata. O que passa por um acordo sobre o nome do seu parceiro de chapa que deixe confortável a caciquia que dá as cartas nessa conhecida federação partidária.

Lula se deu mal quando sugeriu que a legenda apresentasse uma lista de três nomes para a escolha da companheira -- ou melhor, dele próprio. Voltou atrás, mas decerto não desistiu de influir nos arranjos peemedebistas. A caneta presidencial é um forte argumento.

Outro problema, ligado àquele, que faz Lula arregaçar as mangas são as alianças eleitorais nos Estados -- os palanques de candidatos adversários aos governos locais capazes de acolher a petista Dilma. Segundo a Folha de S.Paulo, ela teria 35 desses palanques, 10 a mais do que Serra. Não se imaginará que essa construção prescinda do empenho de Lula. A oito meses da eleição, ele exala otimismo.

"Olha, Dilma, tudo está melhorando para nós", comemorou numa conversa no gabinete que deveria servir para melhorar a gestão dos assuntos de Estado. "A gente vai continuar trabalhando para a popularidade subir ainda mais", prometeu.

Nem mesmo em um evento oficial, a inauguração de escolas técnicas no Distrito Federal, anteontem à noite, Lula se segurou. "Não há pressão que consiga subir com a pesquisa de hoje", declarou, confiante nos efeitos terapêuticos do desempenho da ministra sozinha no páreo.

  

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