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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Os gastos dos sindicalistas
11/03/2010 - O Estado de S.Paulo

Dirigentes das seis centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho gostam de viajar -- e têm viajado muito. Passagens aéreas, aluguel de salas em hotéis, viagens para acompanhar congressos internacionais estão entre as principais despesas efetuadas por essas centrais.

Quanto ao custeio das viagens, os sindicalistas não têm motivos para se preocupar. O dinheiro para cobrir essas despesas, e muitas outras, cai automaticamente nos cofres das centrais, sem que seus dirigentes precisem fazer nenhum esforço.

Desde 2008, com a aprovação da lei que as reconheceu como integrantes do sistema sindical nacional, as centrais têm direito a 10% da arrecadação do Imposto Sindical, que corresponde a um dia de salário de todo empregado, descontado em março. É dessa forma que o trabalhador paga -- queira ou não -- as viagens e outras despesas dos dirigentes das centrais.


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Embora recebam dinheiro público -- pois a contribuição é compulsória e recolhida em favor do Ministério do Trabalho, que depois repassa 90% do valor arrecadado para as organizações sindicais --, as centrais não precisam prestar contas a nenhum órgão oficial de controle e fiscalização.

Ao reconhecer as centrais como integrantes do sistema sindical, e por isso com direito a receber parte do Imposto Sindical, o Congresso lhes impôs a obrigatoriedade de prestação de contas ao Tribunal de Contas da União. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou essa parte do texto aprovado pelo Congresso, argumentando que isso representaria "intervenção na organização sindical" e feria o princípio da autonomia sindical.

Com o veto, as centrais e as demais entidades sindicais -- sindicatos, federações e confederações -- podem fazer o uso que quiserem do dinheiro público.

Não é pouco dinheiro. Na maioria das centrais, o Imposto Sindical cobre 80% dos gastos. A distribuição entre as centrais é, em tese, proporcional ao número de sindicatos filiados a cada uma. Assim, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), com o maior número de filiados, tem direito a 37,8% da fatia do Imposto Sindical que cabe às centrais.

Em 2009, a CUT recebeu R$ 26,7 milhões, ou 60% de seu orçamento. Sem a contribuição sindical, o orçamento da CUT seria de R$ 17,7 milhões; com ela, saltou para R$ 44,4 milhões. Embora tenha menos da metade da representatividade da CUT, a Força Sindical teve direito a R$ 22 milhões, quantia que correspondeu a 80% de seu orçamento, porcentagem semelhante à observada nas demais centrais.

Isso quer dizer que, graças ao Imposto Sindical, as centrais mais do que duplicaram seus orçamentos. Os objetivos de sua ação, como alegam os dirigentes, são o fortalecimento da estrutura sindical, a ampliação da representação dos trabalhadores e a coordenação em nível nacional dos interesses dos assalariados. O dinheiro adicional deveria fortalecer esses trabalhos. No entanto, como mostrou o jornal Valor, a maneira como elas gastam o dinheiro que recebem dos trabalhadores não justifica essas alegações.

"Nossa central viaja muito, os dirigentes executivos vão muito aos Estados para reuniões com as regionais", alegou o secretário-geral da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Carlos Alberto Pereira. Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), disse que o dinheiro é aplicado em gastos estratégicos. "Conseguimos levar membros da UGT para a conferência do clima em Copenhague", citou, como exemplo de gasto estratégico de uma central sindical.

Já a Força Sindical gastou a maior parte do dinheiro da contribuição sindical na reforma e construção de sedes. Desde novembro de 2008, pelo menos seis sedes foram inauguradas.

O presidente da CUT, Artur Henrique, afirmou que os sindicatos não podem depender da contribuição compulsória e argumentou que o dinheiro do imposto deveria ser usado para mudar essa forma de financiamento. Se é contra o imposto -- e a favor de contribuições voluntárias --, por que a CUT não luta para extingui-lo, deixando o dinheiro correspondente a ele no bolso do trabalhador, de onde não deveria ter saído?

  

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