A cassação do governador José Roberto Arruda, pelo apertado placar de 4 a 3 no TRE do DF, é um exemplo primoroso do decantado jeitinho brasileiro de fazer as coisas.
Há fortes e variados motivos para cassar o mandato de Arruda, que continua preso por tentativa de suborno de uma das testemunhas do escândalo brasiliense. Ele pode ser cassado por corrupção, por formação de quadrilha, por falta de decoro, por mil e uma coisas, mas tudo isso demora tempo. E a cassação precisava ser rápida. Então, dá-se um jeito. Deu-se.
Depois da extensa lista de motivos, Arruda acabou cassado por, imagine você, infidelidade partidária. Não faz o menor sentido, porque ele estava ameaçado de expulsão do DEM, negociou sua renúncia ao partido com o próprio partido e está simplesmente sem legenda nenhuma.
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Isso significa que o TRE-DF fez um cálculo, ou uma equação: é preciso cassar logo o governador, mas o único pretexto à mão é a infidelidade partidária. É precário, mas não tem outro. Logo, vamos de infidelidade partidária.
Com isso, fica todo mundo contente: a opinião pública do DF, que quer ver Arruda o quanto antes pelas costas; a opinião pública nacional, exausta de tantos escândalos políticos; a Câmara Legislativa, que, ufa!, se vê livre de ter de votar o impeachment do governador; e o próprio Arruda, que, agora oficialmente sem o cargo, em tese perde as condições de voltar a subornar alguém. É uma conclusão para lá de capenga, mas pode servir de justificativa para que o Supremo relaxe a prisão preventiva.
Até o Planalto e o Supremo também lucram, apesar de indiretamente, com a cassação do mandato de Arruda. É que o processo de intervenção no DF vai sendo empurrado com a barriga, sem que nem Lula nem os ministros do STF tenham que se desgastar com isso.
Agora, não custa lembrar: o TSE pode analisar e julgar a decisão do TRE, como já fez nos casos de três outros governadores, o do Maranhão, o da Paraíba e o de Tocantins. Como jeitinhos e pretextos às vezes têm vida curta, tudo pode acontecer.
Aliás, tudo já está acontecendo por aqui. Nunca antes neste país se viu a capital da República tão esculhambada.
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*Eliane Cantanhêde é colunista da Folha de S.Paulo