A rainha da Inglaterra Elizabeth 1ª, uma das mais poderosas de toda história, tinha uma fraqueza: açúcar. Aos 60 anos ainda estava bonita e sexy, mas jamais sorria nem quando posava para pintores porque os dentes que restavam estavam pretos.
Comparado com outras maldades do açúcar, a dentadura da Elizabeth é uma tragédia menor. Entre africanos e índios das Américas Central e do Sul, o açúcar matou milhões e escravizou gerações. Dos seis milhões de escravos que vieram da África, metade foi trabalhar nas plantações de cana de açúcar. Nenhuma outra planta destruiu e envenenou o planeta como a cana-de-açúcar.
Com Elizabeth Abbott, escritora e jornalista canadense, aprendemos também que a primeira residência do açúcar foi na Polinésia, mas há referências sobre as suas propriedades afrodisíacas na China, cinco séculos antes de Cristo e as propriedades espirituais no ano 325 em cânticos indianos. As histórias estão em "Sugar: A Bitter History".
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A paixão da nobreza europeia pelo açúcar só começa no século 16. O refinado branco era aristocrata, custava uma fortuna, foi usado e abusado nas cortes. No palácio de Mary, da Hungria, regente da Holanda, mesas de doces e confeites desciam do teto em orgias gastronômicas acompanhadas de shows de luzes e trovões.
Quando a portuguesa Maria de Aviz saiu para casar com o Duque de Parma, uma das centenas de esculturas de açúcar na estrada era do próprio duque em tamanho natural. Bem menor, é claro, do que as esculturas da baleia e das serpentes marinhas. No casamento, as velas eram de açúcar.
Quando Elizabeth Abbott foi à ilha de Antígua em busca da história da família, a escritora não pensava em escrever um livro sobre açúcar. Estava atraída pelo fantasma da avó dela, Mary Abbott, com sua camisola azul, um dos mitos mais populares da ilha. A escritora nunca viu a caminhada da avó pelos jardins, mas, na pesquisa, foi encantada pelas conexões dos ancestrais, plantadores de cana-de-açúcar.
Nas 452 páginas do livro, Elizabeth Abbot se concentra nas ilhas inglesas do Caribe, mas há pouco sobre o Brasil, maior produtor e consumidor de açúcar do mundo. A Índia, o distante segundão, também merece pouco destaque.
Nosso açúcar, naquela época, era considerado inferior. Os melhores eram de Barbados e da Jamaica.
A tragédia da rainha escrava Teresa, é muito mais trágica do que a da dentadura de Elizabeth. Colocava a cana nos moedores. Um dia, exausta, cochilou, e a mão direita foi decepada pela máquina. Na tentativa de salvar a direita, Teresa, enfiou a mão esquerda. Perdeu as duas.
Nas plantações brasileiras o capataz sempre tinha por perto um facão afiado para este tipo de emergência. Rápido, cortava a parte do braço para evitar que o escravo morresse, explica Abbott, mas não esclarece porque valia a pena salvar a vida de alguém que daí por diante seria inútil na plantação.
Nossa brutalidade com as escravas merece poucos parágrafos. São histórias que eu ouvia em Minas sobre a dona da fazenda enciumada que mata e serve os olhos da escrava, no molho de sangue, ao marido traidor. Lá, na minha Pitangui, a fazendeira malvada era a Maria Tangará.
A promiscuidade entre patrões e escravas do Caribe merece mais páginas do que a brasileira, e no caldeirão final o Brasil aparece como um país que ofende o meio ambiente. Cuba é um modelo de proteção da mata.
O açúcar acaba de ter a maior queda de preço no mercado nos últimos trinta anos. A produção brasileira de 2010 é recordista, com um aumento de 19% sobre a de 2009, mas a tonelada vale 47% menos do que no ano passado. Um desastre.
E há outro pela frente. O governo americano terá de decidir em breve se mantém o subsídio do etanol produzido nos Estados Unidos com milho, muito mais caro do que o da cana de açúcar.
O álcool brasileiro é barrado aqui graças a um brutal imposto de 54 centavos por galão importado.
A organização dos produtores de etanol americano vai investir US$ 2,5 milhões nos próximos seis meses numa campanha para defender os subsídios.
A UNICA, que representa os produtores brasileiros, vai gastar dez vezes menos para tentar convencer os americanos que nosso álcool/etanol é mais barato, eficiente e menos poluidor.
Numa história amarga, esta seria a mais doce das vitórias para os produtores, mas há uma campanha muito maior contra o açúcar nos alimentos americanos, responsável pela obesidade e pelo diabetes.
A rainha da Inglaterra Elizabeth 1ª, uma das mais poderosas de toda história, tinha uma fraqueza: açúcar. Aos 60 anos ainda estava bonita e sexy, mas jamais sorria nem quando posava para pintores porque os dentes que restavam estavam pretos.
Comparado com outras maldades do açúcar, a dentadura da Elizabeth é uma tragédia menor. Entre africanos e índios das Américas Central e do Sul, o açúcar matou milhões e escravizou gerações. Dos seis milhões de escravos que vieram da África, metade foi trabalhar nas plantações de cana de açúcar. Nenhuma outra planta destruiu e envenenou o planeta como a cana-de-açúcar.
Com Elizabeth Abbott, escritora e jornalista canadense, aprendemos também que a primeira residência do açúcar foi na Polinésia, mas há referências sobre as suas propriedades afrodisíacas na China, cinco séculos antes de Cristo e as propriedades espirituais no ano 325 em cânticos indianos. As histórias estão em Sugar: A Bitter History.
A paixão da nobreza europeia pelo açúcar só começa no século 16. O refinado branco era aristocrata, custava uma fortuna, foi usado e abusado nas cortes. No palácio de Mary, da Hungria, regente da Holanda, mesas de doces e confeites desciam do teto em orgias gastronômicas acompanhadas de shows de luzes e trovões.
Quando a portuguesa Maria de Aviz saiu para casar com o Duque de Parma, uma das centenas de esculturas de açúcar na estrada era do próprio duque em tamanho natural. Bem menor, é claro, do que as esculturas da baleia e das serpentes marinhas. No casamento, as velas eram de açúcar.
Quando Elizabeth Abbott foi à ilha de Antígua em busca da história da família, a escritora não pensava em escrever um livro sobre açúcar. Estava atraída pelo fantasma da avó dela, Mary Abbott, com sua camisola azul, um dos mitos mais populares da ilha. A escritora nunca viu a caminhada da avó pelos jardins, mas, na pesquisa, foi encantada pelas conexões dos ancestrais, plantadores de cana-de-açúcar.
Nas 452 páginas do livro, Elizabeth Abbot se concentra nas ilhas inglesas do Caribe, mas há pouco sobre o Brasil, maior produtor e consumidor de açúcar do mundo. A Índia, o distante segundão, também merece pouco destaque.
Nosso açúcar, naquela época, era considerado inferior. Os melhores eram de Barbados e da Jamaica.
A tragédia da rainha escrava Teresa, é muito mais trágica do que a da dentadura de Elizabeth. Colocava a cana nos moedores. Um dia, exausta, cochilou, e a mão direita foi decepada pela máquina. Na tentativa de salvar a direita, Teresa, enfiou a mão esquerda. Perdeu as duas.
Nas plantações brasileiras o capataz sempre tinha por perto um facão afiado para este tipo de emergência. Rápido, cortava a parte do braço para evitar que o escravo morresse, explica Abbott, mas não esclarece porque valia a pena salvar a vida de alguém que daí por diante seria inútil na plantação.
Nossa brutalidade com as escravas merece poucos parágrafos. São histórias que eu ouvia em Minas sobre a dona da fazenda enciumada que mata e serve os olhos da escrava, no molho de sangue, ao marido traidor. Lá, na minha Pitangui, a fazendeira malvada era a Maria Tangará.
A promiscuidade entre patrões e escravas do Caribe merece mais páginas do que a brasileira, e no caldeirão final o Brasil aparece como um país que ofende o meio ambiente. Cuba é um modelo de proteção da mata.
O açúcar acaba de ter a maior queda de preço no mercado nos últimos trinta anos. A produção brasileira de 2010 é recordista, com um aumento de 19% sobre a de 2009, mas a tonelada vale 47% menos do que no ano passado. Um desastre.
E há outro pela frente. O governo americano terá de decidir em breve se mantém o subsídio do etanol produzido nos Estados Unidos com milho, muito mais caro do que o da cana de açúcar.
O álcool brasileiro é barrado aqui graças a um brutal imposto de 54 centavos por galão importado.
A organização dos produtores de etanol americano vai investir US$ 2,5 milhões nos próximos seis meses numa campanha para defender os subsídios.
A UNICA, que representa os produtores brasileiros, vai gastar dez vezes menos para tentar convencer os americanos que nosso álcool/etanol é mais barato, eficiente e menos poluidor.
Numa história amarga, esta seria a mais doce das vitórias para os produtores, mas há uma campanha muito maior contra o açúcar nos alimentos americanos, responsável pela obesidade e pelo diabetes.