Contenção, ataque ou duplicação 03/08/2010
- Valdo Cruz*
Qual será a tática dos dois principais candidatos à Presidência a partir de agora, quando entramos na fase decisiva da eleição? Contenção, ataque ou duplicação. Explico. Estratégia de contenção dos votos já adquiridos, evitando perdê-los. Ataque direto ao adversário, na busca de miná-lo e fazer com que ele perca intenções de voto. Ou seguir a linha de, eleito, farei tudo melhor, em dobro, de preferência. Muito provavelmente os candidatos vão usar, ao longo da campanha, um misto das três opções, com ênfase em uma delas. Tudo dependendo das análises das próximas pesquisas eleitorais.
O fato é que a eleição entra naquela fase em que qualquer erro pode ser fatal. A dos debates e dos programas de TV. Até aqui, o tucano José Serra optou, nas últimas semanas, a semear o sentimento de medo em relação ao PT. Daí a associação entre PT e as Farc (Forças Revolucionárias da Colômbia, grupo guerrilheiro acusado de fazer parte do narcotráfico). Dilma Rousseff, do seu lado, insistiu na tecla de que Serra pode representar um retrocesso e nas comparações entre o governo Lula e o de FHC.
Os petistas avaliam que a tática dos tucanos de disseminar o medo, adotada até aqui, visa mais conter os votos adquiridos. Ou seja, Serra estaria mais preocupado em manter os apoios conquistados do que em propriamente angariar novos eleitores. Por quê? Porque a equipe de Dilma avalia que esse tipo de arma eleitoral não está atingindo seu eleitorado, de acordo com análises de pesquisas feitas pela campanha. Daí que o objetivo tucano seria não perder votos.
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Os tucanos refutam essa avaliação. Alegam que, por enquanto, o eleitorado ficou conhecendo apenas um lado de um futuro governo Dilma, aquele pintado e divulgado por sua equipe e pelo presidente Lula. Por isso subiu nas pesquisas. Agora, porém, é a hora de mostrar o outro lado da moeda e apontar os futuros riscos de um governo petista comandado pela ex-ministra da Casa Civil. Os caciques do PSDB avaliam que, mais cedo ou mais tarde, ela começará a perder votos. Ou, então, pelo menos ficará estacionada onde está, garantindo a realização de um segundo turno.
A dúvida é se esse tom permanecerá nos programas de TV. Dentro do próprio PT, a avaliação é que esse não deve ser o caminho tucano. A expectativa é que os tucanos continuem disseminando o medo em relação a Dilma por outros canais --internet, entrevistas e comícios--, enquanto na TV Serra optaria por desenvolver seu slogan "O Brasil pode mais". Com isso, espera evitar a armadilha petista de que poderia desativar alguns programas de Lula, como o Bolsa Família. E partir para a tática de prometer, por exemplo, duplicar o número de famílias beneficiadas, como já foi feito.
Como o conteúdo dos programas de TV dos dois candidatos é guardado como segredo de Estado, ninguém sabe exatamente qual será o tom de Serra e Dilma no horário eleitoral gratuito. Nessa semana, pelo menos, descobriremos que tipo de técnica vão usar nos ringues de debates. Se teremos lutas de alto nível ou marcadas por golpes baixos. Anote aí. Se alguém estiver em curva descendente, sai de baixo porque a baixaria vai começar. Como esse cenário ainda não está no horizonte da eleição, tudo deve começar um pouco mais civilizado. A conferir.
Coisas que a eleição faz
Pois é, eleição faz acontecer cada coisa. Vejam o que aconteceu com o Banco Central. Não é que o guardião da moeda nacional está sendo colocado contra a parede pelo mercado financeiro. Isso mesmo, o mercado financeiro, que sempre amou o BC, deu para criticá-lo. Por quê? Por conta de suas explicações sobre as razões que o levaram a reduzir o ritmo de alta dos juros. O mercado acha que os argumentos do BC não convenceram, que ele mudou de opinião rápido demais e que talvez não fosse a hora de reduzir o ritmo de alta dos juros. Bem, por outro lado, quem nunca morreu de amores pelo BC, o Ministério da Fazenda, está contente da vida com o caminho adotado pelo banco.
Bem, se o BC tomou a atitude certa ao dar ouvidos ao ministro Guido Mantega, vamos descobrir em breve. Se descobrirmos que adotou o rumo errado, ficará claro que o banco decidiu dar uma forcinha para a candidata de Lula à Presidência, a petista Dilma Rousseff. A cautela manda ficar, por enquanto, com a constatação de que os papéis se inverteram no mundo da economia. Mercado criticando. Fazenda elogiando. Mais à frente teremos a resposta para esse novo enigma eleitoral.
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*Valdo Cruz é repórter especial da Folha de S.Paulo