A política muda de lugar 17/10/2010
- Agência Estado
A transição do primeiro para o segundo turno permite situar melhor um tema explorado por alguns observadores do cenário eleitoral anterior a 3 de outubro: a "despolitização" da campanha para a Presidência. Por trás das diferenças de ênfase quanto ao sentido do termo, tais análises se pautaram por pressupostos que exigem revisão à luz dos resultados das urnas. O que elas tinham em comum? O que mudou?
Todas tinham por pano de fundo a crítica à dominância dos cálculos eleitorais de curto prazo, em detrimento de um horizonte programático propício ao debate em torno dos rumos das políticas públicas. Além disso, a projeção dos "ativos" políticos dos candidatos estaria determinada pelos marqueteiros, subsidiados por pesquisadores. A maioria das críticas foi dirigida, com razão, a uma oposição desidratada pela ação combinada de vários fatores, com destaque para suas dificuldades internas. O foco incidia sobre as dificuldades do principal partido de oposição, o PSDB: a disputa entre os pré-candidatos, a omissão do legado do governo FHC, a forma improvisada como se deu a escolha do vice. Com a exceção do artigo de José Arthur Giannotti no Aliás de 19/9 - que situava a questão em termos de identidades partidárias calcadas em concepções divergentes de Estado e de democracia -, as críticas à despolitização da campanha foram circunscritas ao curto prazo. O aspecto mais intrigante, porém, foi a omissão da candidatura de Marina Silva, não obstante fosse a voz dissonante, pela ênfase em seus compromissos programáticos e no sistema de valores em que estão ancorados.
Em resumo, prevaleceu o universo polarizado entre Dilma e Serra, entre o lulismo oficial e as oposições - projetado na ofensiva plebiscitária do presidente Lula nos últimos anos. Por isso não há como evadir uma questão derivada, ou seja, a despolitização consentida pelas oposições. Esta não se reduz ao poder dos marqueteiros de converter os candidatos num registro passivo do que os seus pesquisadores sugerem ser a "cabeça do eleitor". Ela resulta da desconstrução das identidades partidárias da oposição, pelo lulismo oficial, graças à apropriação dos seus feitos naquilo que é bom, relevante, eficaz aos olhos do eleitor; e à atribuição daquilo que é por ele visto como negativo.
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Qualquer balanço dos fatores que explicam a dificuldade de antecipar o segundo turno deve partir de uma tripla constatação, portanto. Primeira: até então, os termos da concorrência eleitoral foram ditados pelo presidente Lula e por sua presença avassaladora na cena nacional. Segunda: seus cálculos políticos falharam, apesar de ancorados no bom desempenho da economia, nos índices de popularidade, no sentimento de bem-estar do eleitorado - e no uso intensivo dos recursos políticos da Presidência e do Estado. Terceira: os enormes recursos de poder acumulados em mãos do governo foram insuficientes para mobilizar parcela relevante do eleitorado - que se move num universo de valores pluralista e alheio (se não