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Críticas Construtivas Se todo governante quer, por quê não?!!!

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O senhor das decisões
19/11/2010 - O Estado de S.Paulo

O "blocão" que o PMDB pretendeu montar com quatro outros partidos (PR, PP, PTB e PSC) para constituir uma superbancada de 202 membros na Câmara dos Deputados poderá, ou não, se firmar. Mas, seja qual for seu destino, já serviu para deixar as coisas claras em Brasília: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já terá desocupado o Planalto quando chegar a hora da verdade para a iniciativa - daqui a três meses, ao se instalar a próxima legislatura -, continua dando as cartas na política nacional.

E continuará fazendo isso enquanto "valor mais alto não se alevantar"...

Divulgado o intento peemedebista - aparentemente para mostrar força e contrabalançar o poder que as urnas deram ao PT na nova composição do Congresso, mostrando à presidente eleita por que as demandas da legenda merecem a consideração que lhes tem sido negada -, não foi ela, mas o seu mentor, quem se pôs em campo a fim de dar o troco ao espaçoso aliado. E o fez sem perda de tempo, provando que está em plena forma política. Menos de 5 horas depois do anúncio da formação do bloco, convocou Dilma e o seu braço direito Antonio Palocci para receber as suas instruções, numa reunião noturna no Alvorada. As ordens se resumiam a duas: não fazer concessões aos partidos da base atraídos pelo PMDB na partilha dos cargos na futura administração e deixar que ele se encarregue de enquadrar os seus dirigentes. No dia seguinte, para não deixar dúvidas sobre a sua decisão de detonar o bloco, não se fez de rogado quando os jornalistas pediram que falasse do assunto. Em contraste com a discrição da sucessora - que entrou muda e saiu calada de um encontro com o seu companheiro de chapa e presidente do PMDB, Michel Temer -, Lula não só desdenhou da jogada, como advertiu os seus autores.


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"Primeiro (o bloco), não aconteceu. Parecia que ia acontecer, mas não aconteceu", assinalou, numa nítida referência ao aparente recuo do PR e do PP, chamados às falas pelos operadores do Planalto. Depois, comparou o fluxo natural da política ao curso de um rio. "Se a gente não for um desmancha-ambiente, se a gente deixa a água correr tranquilamente, tudo vai se colocando de acordo com o que é mais importante", ensinou, para enfim dar o seu recado: "Se as pessoas tentam de forma conturbada mexer na política, pode não ser muito bom."

É cedo demais para dizer que a intervenção de Lula condenou ao malogro a tentativa do PMDB. O que houve de efetivamente substancial nas manifestações dos chefes partidários - descontadas as juras de lealdade ao governo - foi o uso do termo "inoportuno". Como observou um prócer petebista, não teria sentido discutir o bloco agora, quando os novos deputados ainda nem tomaram posse e há chão a percorrer até a eleição da Mesa da Câmara, em 15 de fevereiro. O próprio PMDB tratou de reiterar que a ideia não era afrontar o PT, mas pôr ordem na disputa por cargos no governo Dilma - ou, no dizer de um líder partidário, "respeitar os espaços de cada um".

Presume-se, portanto, que, se todos obtiverem o seu quinhão e se o PMDB chegar a um acordo com o PT sobre o rodízio de presidentes da Câmara, deixando intocado o feudo peemedebista no Senado, o bloco perderá a razão de ser. Por ora, quem parece ter todo o espaço concebível na montagem do próximo Gabinete não é a presidente que entra, mas o presidente que sai. Do mesmo modo, como chamou para si o solapamento do blocão, Lula tem a última palavra na seleção dos ministros. Nenhum será indicado à sua revelia. Evidentemente, isso ele nem precisou impor. Parafraseando o que disse da política e dos rios, trata-se do curso natural das coisas.

O que se pergunta é o que vai acontecer depois que transmitir a faixa presidencial para Dilma Rousseff. Como ele repete todos os dias, pretende continuar fazendo política "de segunda a sexta-feira". "Assar coelho" só nos fins de semana. A questão é saber até quando imagina que poderá continuar dando as cartas no Palácio do Planalto. Por enquanto, em suma, a presidente eleita está mais para primeiro-violino do que para regente de orquestra. O desafio, para ambos, consiste em ela se alçar ao pódio do qual ele não tem pressa em descer.

  

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