Medidas que reduzem o consumo são positivas 07/12/2010
- O Estado de S.Paulo
É provável que tenha sido mais o ministro da Fazenda de Dilma do que o de Lula quem decidiu as importantes medidas dos últimos dias que estão mudando a conjuntura econômica. De qualquer forma, temos de reconhecer que o panorama deu uma guinada de 180 graus.
A uma política de estímulos artificiais ao consumo das famílias sucede uma outra, que obriga os consumidores a constituir poupança para adquirir bens de valor relativamente elevado e que poderá ter consequências relevantes.
O consumo doméstico, que cresceu a uma taxa superior a 11,5% nos nove primeiros meses do ano, deverá cair de ritmo, mesmo que as compras natalinas disfarcem um pouco essa queda. Pode-se prever que 2011 começará com estoques maiores do que os previstos, o que se traduzirá por um afrouxamento da produção industrial e por um recuo das importações.
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Diante desse quadro, é possível que a tendência de escalada duradoura dos preços, que se vinha verificando, vai se inverter, o que levará os consumidores a constatar que as medidas tomadas foram acertadas. É possível que num primeiro momento o crédito ao consumo apresente uma taxa de juro maior, por causa da decisão de aumentar os depósitos compulsórios dos bancos. Mas, paralelamente, as instituições financeiras vão se ver num ambiente de competição que rapidamente favorecerá uma redução do custo do crédito.
A diminuição dos prazos de financiamento "sem juros" terá por efeito também um aumento da concorrência entre as lojas, que terão mais possibilidade de reduzir seus preços. E as famílias, que terão de constituir uma poupança para compra de bens a prazo longo, vão-se convencer de que é melhor poupar do que se endividar.
Um provável aumento da taxa Selic poderá atrasar por alguns meses a formação de um clima mais favorável à concorrência, e será mal recebido pelo comércio e a indústria, que terão de financiar estoques de nível anormal. Cabe ao novo governo mostrar que sua vontade de reduzir as despesas de custeio é para valer, o que permitiria adiar um reajuste da taxa Selic. Mas teremos um aumento do desemprego.
Não podemos menosprezar as dificuldades do novo governo para atingir a meta que está anunciando, levando em conta que sua margem de manobra é reduzida, já que os gastos compulsórios são muito elevados e somente um corte nos de investimento poderá, de imediato, evitar maior contribuição para um déficit público que cria excesso de liquidez.