O comércio varejista e a retomada da inflação 15/12/2010
- O Estado de S.Paulo
Por dois meses seguidos o comércio varejista apresentou resultado medíocre, certamente abaixo das previsões dos economistas. A questão é saber se este afrouxamento das vendas se explica pela aproximação das festas de fim de ano, pelo aumento dos preços ou pela redução das facilidades de crédito.
Pode-se descartar a última explicação, pois são muito recentes as medidas de restrição ao crédito. Certamente, os dois primeiros fatores influíram na inibição das vendas.
A alta de preços foi particularmente marcante no caso dos produtos alimentícios. Por isso, registramos uma redução de 0,3% das vendas de alimentos nos supermercados (dados com ajuste sazonal). Sem esse ajuste, verifica-se uma elevação de 8,8% do volume de vendas.
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Aliás, o efeito da alta de preços se distribui por todo o comércio, como se percebe ao comparar os dados de volume com a receita nominal (ambos com ajuste sazonal): em agosto, os dois valores eram próximos (1,7% e 1,9%), mas, em outubro, mostram-se bem diferentes (0,4% para o volume e 1,3% para o faturamento).
É provável que as famílias tenham reduzido suas compras agora para economizar, em vista dos gastos de final do ano. O setor que mais revela essa prudência é o dos equipamentos e materiais de informática e comunicação, com queda de 10% em volume. São bens com que se costuma presentear no Natal e que, sendo essencialmente importados, não acusaram um aumento de preços.
O setor dos móveis e eletrodomésticos apresentou aumento de vendas de 2,3% em volume, ao que tudo indica, vinculado ao programa habitacional: a ocupação de uma nova unidade residencial exige a compra de móveis e eletrodomésticos.
O comércio varejista ampliado, que, além do comércio normal, inclui as vendas de automóveis e materiais de construção, cresceu 2,1% - 6,8% no caso dos automóveis e nada no caso de materiais de construção. Essa informação indica um afrouxamento da atividade.
A forte venda de automóveis explica-se pelo fato de o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter anunciado medidas restritivas para o mês seguinte, exigindo uma parcela de pagamento à vista para os financiamentos mais longos. Isso levou a uma antecipação das compras de veículos.
Um outro aspecto é interessante: enquanto o volume cresce 6,8%, o faturamento fica inferior a 6,3%. Isso reflete a importância dos financiamentos no setor das vendas de carros. Em novembro e dezembro, o comércio deve aumentar com as compras natalinas.