Mais alimentos, e mais caros 10/01/2011
- O Estado de S.Paulo
Os mais recentes levantamentos da próxima safra de grãos e as projeções dos estoques dos principais produtos indicam que não deverá ocorrer problema de abastecimento nos próximos meses. O quarto levantamento da safra 2010/11, elaborado com base em entrevistas feitas em dezembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), elevou para 149,41 milhões de toneladas a estimativa para produção nacional de grãos, maior do que a estimativa anterior, de 149,09 milhões de toneladas, e maior também do que a safra de 2009/10, de 149,2 milhões de toneladas.
Com base no estoque existente no início da safra e nas projeções de produção, importação, consumo e exportação, a Conab prevê que o estoque dos principais produtos no final da safra não deverá ser muito diferente do existente na fase inicial. A maior variação ocorrerá com o estoque do milho, que, no fim da safra, deverá ser 25% menor do que no início, mas ainda assim com volume (8,3 milhões de toneladas) suficiente para evitar oscilações fortes nos preços e assegurar a normalidade do abastecimento.
Importante indicador da atividade no campo e da disposição do produtor de investir, as vendas internas de máquinas agrícolas em 2010 foram 23,8% maiores do que as de 2009. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, disse não esperar aumento expressivo na venda de máquinas agrícolas em 2011, mas observou que, mesmo sem crescimento em relação ao ano anterior, as vendas deste ano serão muito boas. "O ano de 2010 já foi um ano muito robusto, o melhor desde 1976 para o setor", disse. A previsão de manutenção do ritmo de vendas de máquinas agrícolas reforça as estimativas de safra do governo.
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Não se identificam, por essas estimativas, problemas na oferta interna de alimentos. Mas há um problema sério de preços, que já afeta vários países. A FAO, agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, divulgou estudo mostrando que os preços dos alimentos atingiram, no mês passado, o nível mais alto desde 1990. Há pouco mais de dois anos, uma alta não tão forte do preço da alimentação provocou protestos violentos em países pobres, como Bangladesh e Haiti. Na quinta-feira, foram registrados tumultos na Argélia por causa da alta dos preços dos alimentos. Teme-se que, com a elevação contínua desses preços, o próximo país a enfrentar problemas desse tipo seja a Índia.
Há um efeito positivo dessa alta para o Brasil, que se tornou um dos principais exportadores de produtos agrícolas. Dados do Ministério da Agricultura mostram que, de novembro de 2009 a novembro de 2010, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 75,3 bilhões - cerca de 40% de tudo o que o País exportou no período - e as importações, US$ 13 bilhões. Ou seja, a balança comercial do agronegócio registrou, nesse período, saldo de US$ 62,3 bilhões.
No mercado interno, os preços desses produtos acompanham as cotações internacionais. Isso quer dizer que os alimentos estão mais caros também para os brasileiros. A alta dos preços da alimentação foi expressiva em 2010 e puxou para cima a inflação.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE e que baliza a política de metas inflacionárias do Banco Central, subiu 5,91% em 2010, bem mais do que a meta de 4,5%. Os aumentos expressivos nos preços dos alimentos foram os principais responsáveis por essa variação. Curiosamente, em 2008, outro ano de alta mundial dos alimentos, o IPCA teve variação muito parecida, de 5,90%.
O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas, por sua vez, teve, no ano passado, a maior alta desde 2004, tendo subido 11,3%. As matérias-primas brutas agropecuárias no atacado, como soja e bovinos, foram as grandes responsáveis pela alta tão grande do IGP-DI.
Apesar desses números, funcionários do Ministério da Agricultura não admitem que as pressões dos alimentos sobre a inflação persistam.