Crédito caro e contido 30/01/2011
- O Estado de S.Paulo
Depois de crescer 15,2%, entre 2008 e 2009, o volume de operações de crédito aumentou 20,5%, entre 2009 e 2010, mas esse ritmo dificilmente será mantido neste ano. O custo das operações é crescente e o Banco Central (BC) já contém os empréstimos, para não pressionar a inflação.
Em dezembro, o valor dos empréstimos aumentou apenas 1,55%, abaixo do porcentual de 1,87% de dezembro de 2009. Houve "um arrefecimento em comparação ao ritmo em que o crédito vinha crescendo em 2010 e, sem dúvida, por impacto das medidas macroprudenciais", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Com a exigência de mais capital para financiar operações de prazo superior a 24 meses, além do aumento do recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo, houve um duplo efeito negativo para os tomadores de empréstimos: os juros e os spreads subiram e os prazos foram reduzidos. O BC calcula que os juros passaram, em média, de 35% ao ano, no mês passado, para 38% ao ano, na primeira quinzena deste mês.
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A alta dos juros foi maior para as pessoas físicas, que pagavam 40,6% ao ano, em média, em dezembro, e passaram a pagar 45,1%, conforme levantamento de 12 de janeiro. O maior peso veio do spread bancário, que aumentou 2,9 pontos porcentuais no período.
Outra medida da desaceleração do crédito é o volume de concessões para pessoas físicas, que caiu de R$ 3,671 bilhões, em novembro, para R$ 3,142 bilhões, no mês passado (-14,4%). O recuo foi menor no caso das empresas (-6%, na média), cujas necessidades sazonais são agudas. Mas a diminuição dos empréstimos para as micro e pequenas empresas foi de 8,6%, indicação de aperto justamente para as companhias que menos capital têm.
O aperto do crédito ocorre depois de um forte aumento do endividamento das pessoas físicas, constatado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo: entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010, aumentou em 227 mil o número de famílias endividadas, que agora são 1.836.515. O endividamento é maior no cartão de crédito (70,8%), carnês (24,7%) e crédito pessoal (10,8%), que estão entre as linhas de maior custo. Outros 6% pesquisados declararam que as dívidas se devem ao cheque especial e 4,9%, aos pré-datados. O que preocupa é a natureza da dívida - ou seja, o predomínio das dívidas caras -, alertam os especialistas.
Dos devedores, 15% afirmam que já têm uma prestação em atraso e 6% admitem que não poderão pagar todas as obrigações que contraíram. Até dezembro, segundo os dados do BC, a inadimplência em prazo superior a 90 dias, considerada mais grave pelas instituições financeiras, era de apenas 4,6%, com ligeira queda em relação a novembro. E, segundo a Serasa Experian, a inadimplência das empresas caiu 5,3% entre 2009 e 2010, mas subiu 3% entre novembro e dezembro, o que sugere um forte enxugamento da liquidez.
As facilidades encontradas pelos consumidores em 2010 - gastos crescentes do setor público, farta liquidez, mais emprego e renda - foram determinantes da demanda de crédito. Neste ano, o Banco Central já estima que o aumento real da oferta de empréstimos será da ordem de 15%, porcentual semelhante ao de 2009, um ano de recessão.
Em relação ao PIB, prevê Lopes, o crédito continuará aumentando, de 46,6% do PIB, no ano passado, para cerca de 50%, neste ano. Ainda será um crescimento razoável, cuja qualidade dependerá de a evolução ocorrer mais nas linhas de menor custo, por exemplo, crédito consignado e empréstimos habitacionais, do que nas mais onerosas e mais difíceis de serem honradas.
Na Ata do Copom, divulgada quinta-feira, o Banco Central observou que "seu cenário central também contempla moderação na expansão do crédito" . É a maneira de reduzir as pressões da demanda, do ritmo de consumo e de crescimento econômico, estimado em 7,5%, em 2010. Conter o crédito pode ser necessário para o reequilíbrio da economia e o retorno a taxas mais elevadas de crescimento.