Pressões políticas no ensino 04/03/2011
- O Estado de S.Paulo
A indicação política continua sendo um dos principais critérios para a nomeação de diretores das escolas públicas no Brasil. Cerca de 42% da rede escolar municipal e estadual de ensino fundamental e ensino médio é hoje dirigida por quem tem apoio de vereadores, deputados estaduais e federais e senadores - e não necessariamente por quem fez curso de gestão e tem experiência administrativa na área.
Essa é uma das conclusões de uma pesquisa realizada em 24 Estados pela Fundação Victor Civita, em parceria com a educadora paranaense Heloísa Lück, sobre seleção e capacitação de diretores de escolas das redes estaduais e municipais de ensino. Segundo o estudo, a indicação política - que não atende aos interesses das comunidades e dá margem a pressões e ao clientelismo - é o único critério de escolha prevalecente em Rondônia, Maranhão, Santa Catarina e Sergipe. Já Mato Grosso, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte utilizam a eleição pela comunidade como única forma de seleção. E Estados como Rio de Janeiro, Pará, Amazonas, Paraíba, Espírito Santo e Tocantins combinam indicação política com eleição pela comunidade e critérios técnicos, como provas e concursos.
A pesquisa da Fundação Victor Civita revela que São Paulo é o único Estado que realiza concurso para selecionar os diretores de escolas. ¨Diretor é cargo técnico, não cargo político¨, diz o secretário adjunto de Educação, João Cardoso de Palma Filho. Na capital, a Prefeitura também preenche os cargos por meio de concurso aberto aos integrantes da rede escolar que têm licenciatura plena em pedagogia e experiência de pelo menos três anos no magistério. A pesquisa apurou ainda que 20% das Secretarias estaduais de Educação não têm unidade responsável por políticas de seleção de gestores escolares.
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Um diretor de escola pública não pode ser apenas um professor competente em sua especialidade acadêmica. A crescente complexidade da administração pública obriga-o a conhecer também finanças e contabilidade, saber gerir recursos humanos e demonstrar liderança. Segundo os especialistas, as escolas públicas que mais se destacam nas avaliações do ensino básico - como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) - são dirigidas por gestores que têm todas essas qualidades. Além disso, esses profissionais tendem a permanecer mais tempo no cargo, o que assegura uma gestão estável e eficiente, enquanto as unidades onde prevalecem as indicações políticas são marcadas por frequentes trocas de comando, conforme as correlações de força entre os partidos - o que acaba prejudicando a qualidade do ensino.
A pesquisa mostra que as indicações políticas para a direção de escolas públicas costumam resultar em gestões irregulares, burocráticas e medíocres. Como a maioria dos escolhidos não tem formação e experiência em administração escolar, as Secretarias estaduais e municipais da Educação são obrigadas a gastar com capacitação e treinamento desses gestores recursos que deveriam ser aplicados no financiamento de projetos pedagógicos e de reforma curricular.
A exigência de concurso e de conhecimento e experiência em matéria de administração pública e gestão escolar deveria ser o critério fundamental para a escolha dos diretores das redes municipais e estaduais de ensino fundamental e médio. Os especialistas também recomendam que esse processo seja combinado com algum tipo de consulta às comunidades, a fim de conferir legitimidade aos diretores de escolas públicas. ¨Esse modelo envolve mais a escola e os candidatos, selecionando melhor o gestor¨, afirma a diretora executiva da Fundação Victor Civita, Angela Dannemann.
Essa pesquisa deve servir de estímulo para que as autoridades reformulem a legislação educacional, introduzindo critérios mais sérios para a escolha dos diretores de escolas públicas. A educação básica é fundamental para o futuro do País e não deve ficar à mercê de interesses menores dos políticos.