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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O investimento que falta
18/03/2011 - O Estado de S.Paulo

O Brasil enfrentará neste ano, mais uma vez, as pressões inflacionárias causadas pelo descompasso entre o crescimento da demanda e o aumento da produção de bens e serviços. Mais uma vez a diferença será coberta com importações, haverá um buraco nas contas externas e novamente o País dependerá da poupança estrangeira para fechar sua contabilidade. A demanda interna aumentará 6,4% em 2010, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 5%, segundo as novas projeções do Ministério da Fazenda, divulgadas no documento Economia Brasileira em Perspectiva. Com o aumento de juros, a restrição do crédito e o corte programado de gastos públicos, o aumento da demanda será menor que o do ano passado: 10,3%, de acordo com a estimativa oficial. As projeções do governo ainda são, na maior parte, mais otimistas que as do mercado financeiro e das consultorias independentes. Mas os cenários mais discutíveis e provavelmente mais irrealistas são os de médio e de longo prazos, dependentes de uma arrumação ampla das contas públicas e de um grande esforço de investimento na capacidade produtiva.

A inflação chegará a 5% neste ano, de acordo com o documento da Fazenda, e o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos - o saldo de todas as transações de bens e serviços com o exterior - ficará em US$ 67 bilhões, cerca de 2,9% do PIB. No fim da semana passada, economistas do mercado e das consultorias estimavam uma inflação de 5,8% e um crescimento econômico de 4,1%. No entanto, o buraco previsto na conta corrente, US$ 65 bilhões, era pouco menor que o dos cálculos oficiais.

O Brasil precisa poupar e investir muito mais para crescer sem pressões inflacionárias e sem graves desajustes externos. No ano passado o País poupou 16,5% do PIB e investiu 18,4% em máquinas, equipamentos, construções e infraestrutura. A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos de fora. O reforço trazido pela poupança estrangeira pode ser muito útil, se as exportações crescerem vigorosamente e as contas externas forem mantidas sem desajustes importantes. Mas o panorama traçado pelo governo parece muito otimista.


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Um investimento equivalente a 18,4% do PIB está muito longe do necessário para garantir ao País uma expansão econômica segura e duradoura. O governo projeta 20,4% para este ano e taxas crescentes nos anos seguintes, até 24,1% em 2014, quando termina o mandato da presidente Dilma Rousseff. Com essa evolução, será possível, segundo o documento oficial, manter crescimento anual acima de 5,5% sem grandes pressões inflacionárias. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) continuará, segundo o Ministério da Fazenda, tendo uma importância central na expansão da economia e da capacidade produtiva.

Que o País precise de investimentos equivalentes a pelo menos 24% do PIB para crescer com segurança é quase um consenso entre economistas. É quase um lugar comum e não vale a pena, neste momento, discutir esse ponto das avaliações oficiais. As questões importantes são outras. Em primeiro lugar, o aumento da poupança depende muito mais do governo do que das famílias e das empresas. O governo anunciou um programa de arrumação fiscal para 2011. Poderá cumpri-lo, mas ninguém sabe como serão administradas as contas públicas nos próximos anos e o governo mal tocou nessa questão até agora.

Em segundo lugar, o governo precisará de um padrão gerencial muito melhor que o dos últimos anos para executar os projetos do PAC. Nos primeiros quatro anos, os desembolsos efetivos mal chegaram a 60% do total programado. É preciso repetir: deixou-se de investir por incapacidade administrativa, não por falta de dinheiro em caixa.

Em terceiro lugar, é essencial identificar as áreas mais carentes de investimentos e cuidar de garantir um crescimento equilibrado. Se houver um descompasso entre os investimentos no pré-sal e nos demais setores, a expansão do setor do petróleo poderá agravar os desajustes cambiais e esmagar o resto da estrutura industrial do País, causando a chamada doença holandesa. É hora de reaprender os segredos do planejamento e da boa gestão da política econômica

  

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