Confusão nos mercados 08/05/2011
- O Estado de S.Paulo
Foi como um estouro de boiada, com os animais correndo todos para um lado e pouco depois mudando subitamente de rumo. Como se o mundo estivesse à beira de um novo desastre econômico, as cotações do petróleo, do cobre, da soja e de outras matérias-primas despencaram na quinta-feira, juntamente com os preços das ações. Menos de 24 horas depois estavam em recuperação, no Ocidente, enquanto os mercados orientais seguiam ainda a histeria ocidental do dia anterior. Nenhum evento dramático havia alterado as condições da economia global. A única novidade relevante era uma notícia divulgada pelo governo americano: a economia dos Estados Unidos havia criado em abril 244 mil empregos, em vez dos 185 mil previstos pelo mercado. Mas a boa notícia era acompanhada de outra menos animadora: o desemprego havia subido de 8,8% para 9%, um evento nada incomum em fases de recuperação. Provavelmente alguns milhares de pessoas haviam tentado voltar ao mercado depois de algum tempo de afastamento.
Outras mudanças de rumo ocorreram na sexta-feira à tarde. Violentas oscilações de preços em pouco tempo - neste caso, de um dia para o outro - mostram um grau excepcional de insegurança nos mercados de ativos financeiros e de commodities. Quem opera nesses mercados tem de tomar decisões com rapidez, com base num jorro incessante e muito veloz de informações de todos os setores e de todo o mundo. Isso pode ser razoavelmente simples quando as informações são unívocas e as tendências são bem definidas. Mas o quadro atual é o oposto disso. Num momento os mercados são inundados por uma onda de notícias negativas - a desaceleração da economia americana, o agravamento da crise das dívidas soberanas na Europa, as decisões cautelosas do Banco Central Europeu, do Banco da Inglaterra e do Federal Reserve, por exemplo. No momento seguinte, a criação de empregos nos Estados Unidos surpreende até os otimistas e todo o quadro mundial parece menos sombrio.
Em outras condições, o movimento dos mercados de ativos financeiros e de commodities pode ser um bom indicador das tendências da economia. Afinal, juntar e processar um enorme número de informações, continuamente, é atividade rotineira de quem atua nesses mercados. Essa proeza está fora do alcance da maior parte das pessoas que não atuam nessa área. Mas elas podem ter uma avaliação indireta, observando a evolução das bolsas. Menos, é claro, em condições como as atuais, de grande instabilidade e muita incerteza em relação a quase tudo.
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Há poucas apostas mais ou menos seguras neste momento. Pode-se prever sem grande risco, por exemplo, a continuidade do crescimento de várias economias emergentes. Algumas, como a chinesa e a indiana, terão de enfrentar ajustes para conter a alta de preços, mas provavelmente ainda terão boas condições para crescer. Também se pode apostar, sem grande risco de erro, numa recuperação mais firme nos Estados Unidos do que na maior parte da Europa, onde os custos do ajuste fiscal serão certamente mais pesados.
Mas um alto grau de insegurança continuará presente nos mercados. A queda de preços na quinta-feira pode ter sido o começo de um ajuste, apenas atenuado no dia seguinte. Deve haver exagero em algumas cotações, porque o excesso de dinheiro em circulação também afetou os preços. Mas ninguém pode prever os novos pontos de equilíbrio, porque outros fatores importantes, como a demanda voraz das economias emergentes, continuarão afetando as cotações.
O Brasil também é afetado por essas incertezas. O País continuará a importar inflação enquanto os mercados de commodities permanecerem aquecidos. No entanto, se os preços caírem, a receita de exportações será prejudicada. Mas os preços externos são só um dos fatores inflacionários. Outro fator, talvez mais importante, é a forte demanda interna. Haverá negociações salariais de categorias poderosas nos próximos meses, quando a inflação acumulada em 12 meses estará próxima de 7%. Se os sindicatos conseguirem reposição integral e mais um ganho extra, a indexação combinada com a demanda aquecida tornará muito difícil conter a alta de preços. Se o governo relaxar, cometerá um erro enorme.