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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

As greves do professorado
28/05/2011 - O Estado de S.Paulo

Estudantes do ensino básico voltaram a ser vítimas dos interesses corporativos de seus professores. Por causa das greves por tempo indeterminado deflagradas por professores da rede pública de seis Estados e da prefeitura de Porto Alegre, mais de 1,7 milhão de estudantes do ensino fundamental e médio estão sem aula há vários dias. A maior parte das greves está ocorrendo no Nordeste.

A estimativa é de que cerca de 80 mil professores suspenderam as atividades didáticas no meio do semestre letivo. Cerca de 60 mil servidores técnicos e administrativos também aderiram ao protesto. As reivindicações dos grevistas variam conforme cada Estado - ou município, no caso da capital gaúcha. Por isso, as negociações são independentes.

Na Paraíba, por exemplo, os professores exigem a manutenção das gratificações de estímulo à atividade pedagógica, pedem um piso de R$ 890 para quem tem jornada semanal de 30 horas e pleiteiam aumento das bolsas de avaliação de desempenho docente e da ajuda de custo para transporte dos funcionários administrativos dos colégios estaduais.


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Em Alagoas, os docentes alegam que, por causa da inflação, os vencimentos da categoria estão com uma defasagem de 25% e acusam o governo estadual de não ter implementado o plano de cargos e carreiras. No Rio Grande do Norte, a discussão gira em torno de critérios para promoções, processo seletivo e pagamento de licença-prêmio e de abono de férias. Em Santa Catarina, os professores protestam porque o governo estadual aprovou uma lei que acaba com o Plano de Carreira do Magistério, que estava em vigor desde a década de 1980.

Em Sergipe, no Amapá e em Mato Grosso, os membros do magistério público estão pressionando os governos estaduais a cumprir a decisão tomada há cerca de um mês pelo Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a constitucionalidade da Lei do Piso Salarial Nacional, de 2008, obrigando todas as unidades da Federação a cumpri-la. Essa também é a reivindicação dos professores de Pernambuco - o Estado que, segundo os levantamentos do Ministério da Educação, paga os salários mais baixos da rede escolar pública de todo o País. Em Santa Catarina, os professores querem que o governo exclua os abonos do cálculo do piso salarial nacional, que hoje é de R$ 1.187 mensais para uma jornada semanal de 40 horas.

Em quase todos esses Estados e na prefeitura de Porto Alegre, os secretários de Educação alegam não dispor de recursos orçamentários para cumprir a decisão do Supremo, depositando a diferença entre os vencimentos atuais pagos ao magistério público e o piso de R$ 1.187. Em Santa Catarina, o secretário Marcos Tebaldi afirma que o Estado só pode pagar o piso para 53% dos professores da rede estadual. "O que podemos fazer é isso. Para atender os que vão ficar de fora precisaremos de mais tempo para encontrar fontes de recursos", diz ele.

Alguns secretários de Educação afirmam que somente poderão cumprir a Lei do Piso se puderem incorporar no cálculo do salário os bônus de produtividade e as gratificações de estímulo à atividade pedagógica - o que é recusado pelo professorado da rede pública.

Além de reclamar da falta de recurso, vários secretários de Educação lembram que os gastos com a folha de pagamento do magistério público já estão no limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, se tiverem de pagar a diferença para atingirem o piso nacional, como determinou o Supremo, os governadores desses Estados poderão ser acionados por crime de responsabilidade.

Esse problema era esperado desde que, pressionado pelo governo federal, o Congresso aprovou a Lei do Piso Salarial Nacional para o magistério público, em 2008, criando despesas adicionais para os Estados. Mas a lei aí está e os professores têm o direito de exigir o seu cumprimento. O problema está na forma da reivindicação. Ao suspender as aulas, os docentes estão prejudicando a formação de 1,7 milhão de alunos, que foram convertidos em reféns de um confronto corporativo.

  

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