Perfil da indústria em mudança 27/06/2011
- O Estado de S.Paulo
A taxa de investimentos no Brasil é reconhecidamente baixa em comparação com as de outras economias emergentes. Daí se poderia concluir que o parque industrial do País estaria muito defasado ou obsoleto.
Não é o que ocorre, segundo estudo dos economistas do BNDES Fernando Puga e Gilberto Barça. Nos últimos anos houve um contínuo aumento da aquisição de máquinas e equipamentos, o que tem concorrido para a modernização do parque industrial nacional.
E essa tendência deve se acentuar em razão dos investimentos em infraestrutura e na área habitacional. Segundo o estudo, a predominância dos investimentos em bens de capital gera maior oferta de produtos para equilibrar a pressão do consumo e aumenta a produtividade dos agentes econômicos.
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O reparo que se pode fazer é que os investimentos da indústria em bens de capital, feitos principalmente por meio de importações, estão muito concentrados em alguns setores, sendo apenas marginal a participação de grande parte da indústria de transformação, que luta para não perder ainda mais competitividade.
O estudo foi feito a partir de dados do Banco Mundial relativos a 2005, quando a taxa agregada de investimentos brasileira era de 16,3% do PIB, figurando em último lugar em um grupo de 20 países. Contudo, analisado apenas o componente relativo a investimentos em máquinas e equipamentos, o Brasil apresentava uma taxa de 7,9% do PIB, superando países como a Espanha (7,2%), o Reino Unido (5,8%), a França (5,8%) e os EUA (5,8%). A taxa brasileira era até um pouco maior do que a média mundial (7,6%), encurtando a distância em comparação com a China (11,5%), a Índia (13,1%) e a Coreia do Sul (9,1%).
Mais recentemente, com a expansão do crédito imobiliário e o impulso às obras públicas, o segmento de construção tende a crescer mais aceleradamente, diz o estudo, mas sem tirar a liderança dos bens de capital, uma vez que os investimentos estimados pelo BNDES até 2014 concentram-se em setores intensivos de capital. A projeção do BNDES é de que a taxa agregada média de investimentos do País, que ficou em 18,4% do PIB em 2010, pode evoluir para 20,9% entre 2011 e 2014, atingindo 22,8% ao fim do período.
Os investimentos da indústria nesse período são estimados em R$ 832,1 bilhões, sendo R$ 355,7 bilhões, ou 42,7% do total, destinados à área de petróleo e gás natural. Em seguida vem a indústria extrativa mineral, com R$ 67,2 bilhões (8%). Os dois setores somados ficarão, portanto, com a metade do total dos investimentos. Nota-se também que o valor estimado para os investimentos na área petrolífera é superior ao total das dotações para a infraestrutura (R$ 280,3 bilhões), no qual se destacam os investimentos no setor elétrico (R$ 85,2 bilhões) e telecomunicações (R$ 56,7 bilhões).
Os investimentos para a modernização da indústria de transformação são de muito menor vulto. Segundo a Sondagem de Investimentos da Indústria de Transformação, da FGV, o aumento nas importações tem causado incertezas sobre a demanda da indústria de transformação em geral, sendo um dos principais fatores que limitam os investimentos. Mais afetadas têm sido as indústrias de material elétrico e comunicação, metalurgia, material de transporte e têxtil. Em melhor situação estão o setor de celulose e papel, que não está sob ameaça de competição externa, e os setores de minerais não metálicos e matérias plásticas, que confiam no crescimento continuado do setor de construção.
Se não está havendo desindustrialização do País, o que é discutível, o que se nota é que, pelo menos, o perfil industrial está em processo acelerado de mudança. A própria indústria nacional de bens de capital tem sido diretamente afetada. Segundo José Velloso, vice-presidente da Abimaq, o consumo nacional de bens de capital somou R$ 120 bilhões em 2010, e menos da metade foi atendida pela indústria instalada no País. A proporção de importados nesse segmento não passava de 40% em 2005.