Poker – Conheça antes de criticar! 28/06/2011
- Kleysller Willon Silva
Recentemente, participei na Capital de nosso Estado de um torneio, onde competia com cerca de 120 jogadores devidamente inscritos. O campeão, ou seja, aquele que venceu o “triatlon” -- digo isso pois foram no mínimo 18horas intervaladas em 2 dias para obter esse êxito --, é de nossa cidade, Rondonópolis. No total, fomos em 18 jogadores, todos com ótimas colocações. Dito isto, já poderia afirmar que temos uma boa equipe de talentosos atletas, alguns até patrocinados e outros ganharam a inscrição devido a seus resultados.
Até aí, a maioria dos leitores deve estar achando que o título é equivocado. Do contrário, é super pertinente, pois fomos a Cuiabá participar do 1º Torneio de Poker Federado de Mato Grosso.
O poker é um esporte de extrema dificuldade e exigência mental que ainda é tratado como jogo de azar por pessoas mal informadas e que são incapazes de expandir sua cabeça para novas ideias e conceitos.
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Existe no cenário nacional e internacional milhares de campeonatos, com estruturas gigantes e prêmios milhonários aos jogadores, que nada perde ou deve aos maiores eventos esportivos do mundo.
As instituições de ensino americanas têm o poker como grade curricular, igual temos no Brasil educação física. Lá, é tratado como educação física e mental, pois é evidente que esta atividade denominada mundialmente “esporte da mente” estimula a capacidade de raciocínio, análise de situações e até importante cálculos matemáticos.
O filósofo Johan Huizinga, em 1938, definiu o “jogo” como: “uma atividade voluntária exercida dentro de certos determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana”.
Vamos agora comparar com a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo): é uma atividade voluntária (você decide colocar seu dinheiro lá); que tem limite de tempo (pregões), que possui espaço (dinheiro circulante), que possui regras e regulamentos que o mercado nacional e internacional aprovam e os players (investidores) aceitam e estão sujeitos única e exclusivamente à sua intuição e à volatilidade dos papéis.
E no poker? É igualzinho. Só muda que, além da intuição, temos que ter raciocínio matemático acelerado e não podemos telefonar para nossos consultores quando nossas fichas estão caindo. Temos que ter habilidade para voltar sozinho ou perder o campeonato.
Vou parar por aqui a analogia com a Bolsa, pois tal como o poker só é criticada por quem não entende.
Pergunte à sua avó se ela sabe como funciona a Bolsa de Valores. Se ela não for a velhinha milionária da novela Insensato Coração, falará assim: um amigo do seu pai perdeu tudo nesse trem aí de apostar em papéis.
Podia aqui escrever até a página social sobre o motivo de se tratar o poker como esporte e não jogo de azar.
Se uma criança trazer da escola uma medalha de décimo quinto colocado em um torneio de xadrez, onde concorriam 120 coleguinhas, o papai e a mamãe, todo orgulhosos, falarão a todos, e vão comprar livros, DVDs, puxar artigos na internet, para que ele possa ganhar o próximo campeonato ou até mesmo conseguir uma colocação melhor, ou seja, vão incentivá-lo ao máximo.
É nesse ponto que quero barrar o preconceito. O torneio de poker é como um torneio de xadrez, tem peão (par de 10), cavalos (valetes J ), tem rainha (damas Q), tem rei (K), tem inscrição, tem campeão, tem vice-campeão. A diferença é que um é jogado no tabuleiro com peças, o outro é jogado em mesa com baralho e fichas.
Jogar torneio de poker é diferente de jogar carteado. Em um torneio, quando se perde, terá de esperar no mínimo 3 meses para entrar de novo.
Isso exposto, fica claro que o cara não tem como quebrar ou perder muito dinheiro, pois ele pagou uma inscrição pra participar e sabe quanto vai perder, se não ganhar. Como em uma prova da São Silvestre, você até paga pra correr, mesmo sabendo que não vai ganhar.
O que leva muita gente a classificar o poker como jogo de azar é por conter o baralho como arma nessa batalha, porém todos profissionais do poker sabem que as cartas (baralho) é a terceira ferramenta, tendo as fichas como segunda e a posição e habilidade em primeiro lugar.
Por fim, decidi escrever esse texto para que quando os desavisados fixarem os olhares nos jogadores de poker, vejam neles pais de família, empresários, vendedores, farmacêuticos, policiais, servidores públicos, universitários que escolheram um hobby para se divertir e esse aqui, tal como a maioria dos players, não bebe, não se droga, não é viciado em jogo, trabalha muito e ama muito a sua família, que o apóia sempre.
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*Kleysller Willon Silva, de Rondonópolis, é pai de famíla, médico veterinário sanitarista, especialista em tecnologia de alimentos, décimo quinto colocado no Torneio Matogrossense de Poker