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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Virtudes ou defeitos
12/07/2011 - Valdo Cruz*

O Congresso entra em recesso daqui alguns dias e marca simbolicamente o fim da primeira fase do governo Dilma. Um período em que a presidente colecionou uma série de medidas e ações que podem ser classificadas tanto como virtudes ou como falta de coordenação e de estratégia no gerenciamento de decisões. Viveu suas crises, mostrou força em alguns momentos, fragilidade em outros e deixou na gaveta promessas de campanha.

Em vários episódios, o governo literalmente bateu cabeça. Foi um vaivém danado. Ora dizia que sim, ora que não, para depois recuar e aceitar algumas ponderações antes rejeitadas e consideradas totalmente inaceitáveis.

Foi assim no RDC (Regime Diferenciado de Contratações), aquele mecanismo encontrado para agilizar as obras da Copa e das Olimpíadas. Foi um tal de bota sigilo nos orçamentos, estica sigilo, tira e limita. No final, contudo, o governo mostrou força e aprovou o novo sistema.


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O vaivém repetiu-se no caso do projeto de lei sobre acesso a informações públicas. Dilma era contra o sigilo eterno dos documentos, depois disse ser a favor. Em seguida, informou que a decisão é do Congresso e ponto final. Uma forma de dizer que continua contra. E conseguiu empurrar o tema com a barriga e deixar a votação para o segundo semestre.

A confusão na seara governamental voltou a acontecer na novela dos "restos a pagar", pagamentos pendentes de emendas parlamentares do Orçamento de 2009. Dilma disse que era contra liberar. Pressionada, bateu o pé. A seu estilo, falou grosso e encarou os aliados. Diante da ameaça de rebelião, rendeu-se à realidade e recuou. A dúvida é se irá, realmente, fazer os pagamentos. Deputados e senadores vão descobrir apenas depois de voltarem das férias.

Nas três situações citadas, a posição palaciana ou não ficou muito clara desde o início das pelejas ou então foi definida, de forma taxativa, como sendo inegociável pela equipe presidencial --mas acabou não sendo bem assim. Mudar de opinião nem sempre é algo condenável. Muitas vezes trata-se de uma virtude. Mas bater cabeça e firmar posições radicais costumam gerar desgastes desnecessários para um presidente da República que, como última instância, precisa arbitrar conflitos.

Enfim, o vaivém do governo nos três episódios consumiu tempo e capital político do Planalto. Em início de administração, não chega a ser grave. Mas não era para acontecer no governo de uma presidente que prima pela boa gerência.

O primeiro semestre antes do recesso parlamentar também foi pródigo em crises políticas para um governo tão novo. Caiu o então principal ministro de Dilma, Antonio Palocci, depois de um calvário de 23 dias. Cerca de um mês depois, em apenas cinco dias perdeu o cargo o ministro Alfredo Nascimento (Transportes), gerando mais uma crise nesta reta final antes do recesso do Legislativo. No primeiro caso, Dilma demorou a decidir o futuro do petista. No segundo, foi rápida ao traçar o destino do senador do PR.

Mas nem tudo foi crise. Dilma ganhou a batalha do salário mínimo. Em nome do ajuste fiscal, fez sua base aprovar o valor de R$ 545 contra a vontade das centrais sindicais. Depois de um início titubeante, conseguiu reverter as expectativas negativas do mercado e fez recuar os índices de inflação. Perdeu, contudo, a votação do Código Florestal, detonando sua primeira grave crise com o PMDB. Chegou a ameaçar ministros peemedebistas de demissão, para depois cair na real e buscar as pazes com o partido de seu vice-presidente, Michel Temer.

A relação de Dilma com seus aliados, por sinal, foi marcada por turbulências durante todo o primeiro semestre. O principal motivo foi a resistência da presidente em aceitar pressões de parlamentares governistas por nomeações para cargos federais. Acabou tendo de ceder aqui e ali. Não se pode deixar de reconhecer que Dilma, nesta guerra, trava um bom combate, só que sua base aliada não está nem aí. Quer mesmo é nomear e liberar verbas de suas emendas parlamentares.

Não por outro motivo a presidente não quis depender muito do Congresso nesta primeira fase. Desistiu da reforma da Previdência, não enviou a tributária, esta uma promessa de campanha. A pergunta que fica é como será o relacionamento entre Dilma e sua base aliada na próxima fase de seu governo? Sua disposição de receber todos os líderes aliados, nesta semana, para um coquetel de confraternização mostra que ela sentiu necessidade de distensionar a relação. Até que ponto, a conferir.

...

*Valdo Cruz é repórter especial da Folha de S.Paulo

  

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