O Copom quis ter liberdade para maior intervenção? 22/07/2011
- O Estado de S.Paulo
O comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) não incluiu, como o anterior, que o ajuste poderia se dar por um período "suficientemente prolongado", o que foi interpretado como indicação do fim do ciclo da elevação da taxa Selic. No entanto, ao falar em elevar "neste momento" a taxa para 12,50%, deixou a impressão de que a decisão tem caráter provisório e pode ser revista.
Essa contradição do comunicado, espera-se, poderá ser mais bem esclarecida quando for divulgada a ata da reunião.
A primeira indagação é se realmente as autoridades monetárias quiseram anunciar o fim do ciclo da elevação da taxa de juros básica. Poderia parecer que o Copom se deixou influenciar pela evolução dos índices de preços nos últimos meses. Somos de opinião de que essa trégua não deverá ter vida longa. Ocorre num momento em que a economia apresenta elementos de aquecimento (demanda interna sustentada, situação de quase pleno emprego, continuidade da melhora dos rendimentos e dúvidas em torno do núcleo da inflação), situação agravada quando se examinam os fatores que provavelmente poderão lançar mais combustível no incêndio. Por exemplo, os reajustes salariais dos próximos meses, a inclinação do governo em gastar mais, aproveitando o aumento que não previra das suas receitas, uma aceleração dos investimentos do setor público - incluindo as empresas dominadas pelo governo - e a necessidade de apressar os gastos vinculados aos eventos esportivos. Nem se fale do próximo ano, quando deveremos enfrentar uma elevação do salário mínimo de 14%.
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A segunda dúvida é relativa à introdução no comunicado da expressão "neste momento". Duas interpretações podem ser dadas: os membros do Copom quiseram compensar a supressão do aviso de que a política de austeridade seria prolongada, para satisfação de todos os economistas que nos últimos meses condenaram a elevação da taxa básica de juros. Outros analistas consideram que o Copom se reservou o direito de manter essa política, se a evolução da conjuntura internacional (nos EUA e, especialmente, na União Europeia) representar um perigo para a economia nacional.
É interessante - caso essa interpretação se justifique - verificar que as autoridades monetárias brasileiras consideram, afinal, que essas perturbações podem afetar nossa economia, o que também é nossa opinião.
É provável que o Copom quisesse criar essas dúvidas no mercado para ter as mãos livres para uma intervenção maior.