O crédito continua amplo e caro, favorecendo a inflação 28/07/2011
- O Estado de S.Paulo
Espera-se que as autoridades monetárias tenham o mesmo empenho para controlar o crédito que exibiram para amenizar os efeitos da valorização excessiva do real ante o dólar. Até agora, não se veem medidas de contenção do crédito que, especialmente no âmbito das famílias, alimenta as pressões inflacionárias.
A divulgação, ontem, pelo Banco Central (BC) dos dados relativos ao crédito não revela nada que possa ser considerado fator de contenção, a não ser uma ligeira queda nas concessões, cujo efeito é neutralizado pela redução das taxas de juros (que podem estimular o crédito) e pelo alongamento do prazo médio dos empréstimos, que atinge 482 dias, um recorde para operações com pessoas físicas (PFs).
O crescimento da base monetária - de 6,8% no mês de junho - deve ter ajudado o aumento das operações do sistema financeiro, que chegaram a 47,2% do PIB, com as operações com pessoas jurídicas (PJs) crescendo 1,5%, em relação a maio, e com as PFs, 1,7% - nos dois casos, bem mais do que a inflação. O aumento de 20% do crédito em 12 meses é o objetivo do BC para o ano de 2011, mas será certamente ultrapassado, levando em conta a maior expansão do crédito no segundo semestre.
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Deve-se notar que as instituições públicas têm uma participação de 19,85% na distribuição do crédito, ante 19,3% das instituições privadas nacionais e 8,1% das instituições estrangeiras. Com essa distribuição, os bancos públicos poderiam ter papel importante na contenção do crédito.
A inadimplência ficou estável em relação ao mês anterior - o que permitiu uma ligeira redução provisória das taxas de juros praticadas no mercado.
O crédito consignado continua aumentando (1,8% em junho), porém representando apenas 59,2% do crédito pessoal que, apesar do seu custo absurdo, aumentou no mês de junho, sinal evidente das dificuldades que as famílias estão encontrando para saldar dívidas.
Essa situação poderá se agravar nos próximos meses, diante da expansão do crédito habitacional e imobiliário, que cresceu 3,6% no mês de junho e 46% em 12 meses, o que deveria levar as autoridades monetárias, sem sacrifício desse tipo de crédito, a limitar as operações de crédito pessoal, que daqui a alguns meses poderão fazer crescer a inadimplência.
Junho parece ter sido uma exceção na evolução do crédito. Segundo informações do próprio BC, até o dia 13 de julho o saldo do crédito cresceu 1,17%; as concessões, 0,8%; enquanto a taxa média de juros subia 0,7 ponto porcentual - dados a indicar que não houve mudanças na política do BC.