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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Novos temores nos mercados
04/08/2011 - O Estado de S.Paulo

Passado o temor do calote americano, uma nova onda de preocupações se espalha pelos mercados, atinge o Brasil e põe o governo em alerta, como deixou claro a presidente Dilma Rousseff ao lançar o Plano Brasil Maior. Ela previu "um longo período de tensão" na economia mundial e novos problemas cambiais causados pelo excesso de dinheiro emitido nos países mais desenvolvidos. Mas o cenário global é mais complexo e mais assustador. Inclui o risco de nova fase de estagnação nos EUA e em vários países do mundo rico e de mais um surto de problemas financeiros na zona do euro. Na terça-feira os governos da Itália e da Espanha tiveram de pagar juros excepcionalmente altos - 6,13% e 6,28% - para rolar seus títulos no mercado. Diante da nova turbulência, o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, adiou as férias de verão. Seu colega italiano Silvio Berlusconi apressou-se a marcar para o dia seguinte um discurso no Parlamento. Na quarta-feira de manhã, o ministro da Economia da Itália, Giulio Tremonti, reuniu-se em Luxemburgo com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, para uma conversa sobre os problemas da zona do euro. O Eurogrupo reúne os ministros de Economia e Finanças da união monetária.

A notícia do encontro "produtivo" foi seguida por uma valorização de ações de bancos de toda a Europa, depois de vários dias de baixas.

O alívio trazido pelo novo pacote de socorro à Grécia durou pouco e foi logo substituído por temores mais fortes em relação à dívida soberana de duas economias consideradas até há pouco tempo mais sólidas que a grega - a portuguesa e a irlandesa. As dúvidas - ou especulações - quanto à segurança dos papéis da Itália e da Espanha tendem a contaminar a credibilidade de outros devedores. Como consequência, já se comenta nos mercados a possibilidade de novas compras de títulos públicos pelo Banco Central Europeu (BCE). Desde maio de 2010, quando os governos se mobilizaram para a primeira ajuda à Grécia, o BCE comprou 78 bilhões em papéis gregos, portugueses e irlandeses, agora muito desvalorizados. Governos locais da Hungria pediram um ano de carência para suas dívidas em francos suíços, uma das moedas mais valorizadas nos últimos tempos.


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Diante da turbulência, aumentaram as apostas de que o BCE e o Banco da Inglaterra manterão os juros, nas reuniões que farão hoje. Na zona do euro, a melhor notícia da semana veio do varejo. As vendas de junho foram 0,9% maiores que as de maio. Mas a informação completa é menos animadora. O resultado de junho ainda foi 0,4% inferior ao de um ano antes. Além disso, a queda de abril para maio foi revista de 1,1% para 1,3%. Na maior parte da zona do euro os sinais vitais continuam muito fracos.

Nos EUA, o Departamento do Trabalho deverá divulgar amanhã um dos indicadores mais esperados de cada mês - a evolução do emprego nas atividades urbanas. Na quarta-feira, a ADP, uma gigante processadora de folhas de pagamento, informou a criação de 114 mil empregos pelo setor privado, em julho, número superior ao previsto por vários economistas do mercado financeiro - 100 mil. Mas, segundo a consultoria Challenger, Gray & Christmas, o número de cortes planejados pelas empresas privadas chegou a 66.414 no mês passado, 60% mais do que em junho. O suspense continuará até saírem os dados oficiais. Os últimos disponíveis indicam que 9,2% de desemprego foi do setor rural.

Sejam quais forem os novos números, as perspectivas são de recuperação mais lenta e mais difícil da economia americana. Se o ajuste orçamentário depender só de cortes de gastos, sem aumento de impostos para ricos e grandes empresas, a crise será longa e penosa para milhões de famílias. Por isso o governo continua batalhando politicamente para conseguir pelo menos a redução das isenções fiscais concedidas aos contribuintes mais poderosos. Uma estagnação mais longa nas maiores economias capitalistas comprometerá o comércio internacional, aumentará as distorções nos fluxos de capitais e terá um enorme custo para os países emergentes e em desenvolvimento.

  

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