Política monetária muda e desorienta os investidores 02/09/2011
- O Estado de S.Paulo
A redução do juro básico de 12,5% ao ano para 12% ao ano, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), levou desorientação aos mercados. Houve forte queda nas taxas futuras de juros e alta nas cotações em bolsa, no câmbio. Mal recebidas, as explicações dadas pelo Copom para a decisão provocaram aumento instantâneo das incertezas.
Analistas de bancos internacionais, como Tony Volpon, do Nomura, já preveem que a taxa Selic será inferior a 10%, no início de 2012, enquanto a área econômica do Banco Itaú, em texto assinado pelo ex-diretor do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn e pelos economistas Aurélio Bicalho e Caio Megale, admite que o juro básico poderá cair a 10% até dezembro. Se as previsões se confirmarem, começou uma guinada na política monetária, relaxando o controle sobre a inflação.
Com a globalização, os mercados brasileiros dependem das decisões dos aplicadores estrangeiros, e a desconfiança em relação ao Copom é fator de volatilidade. Ontem, o mercado de ações abriu com alta de 3%, que se sustentava ao longo do dia, sem que se notasse tendência semelhante em outros mercados internacionais, como Nova York ou Frankfurt.
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O juro futuro de CDI prefixado de 360 dias, negociado a 12,69% ao ano, no início de julho, caía ontem para pouco mais de 11% ao ano. O ouro acusava queda de 1,5%.
Até agora, a política monetária tinha por objetivo atingir a meta de inflação de 4,5% ao ano, podendo chegar ao máximo de 6,5%. É esse o indicador central dos agentes econômicos e o mandato do Banco Central é alcançar a meta. Se o BC passa a se ocupar mais com o ritmo da atividade, será preciso interpretar, a partir de agora, se isso é o mais importante. Ou seja, desorientação e volatilidade estarão mais presentes e, talvez, também mais inflação, pois os agentes econômicos terão de se defender de novos riscos, provocados pelas decisões das autoridades monetárias.
As oscilações fortes ocorridas ontem nos mercados de renda variável, como ouro e ações, ou renda fixa, como o DI e títulos públicos, reforçaram a noção dos riscos de mudança da política monetária sem explicações convincentes das autoridades.
Um ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, qualificou a decisão do Copom como "imprudência" e um ex-diretor do BC, Alexandre Schwartzman, chamou-a de "erro".
Se a inflação recrudescer, o governo Dilma consumirá capital político amealhado graças à autonomia do Banco Central, presente até a saída de Henrique Meirelles.