Atraso nas obras da Copa 16/09/2011
- O Estado de S.Paulo
Políticos e cartolas do futebol não perdem oportunidade para fazer uma grande festa, na qual possam aparecer bem diante do público que criteriosamente escolhem para essas celebrações e, sobretudo, diante das câmeras de televisão. Hoje, eles terão mais uma dessas oportunidades. Faltam exatamente mil dias para o início da Copa do Mundo de 2014 e, por isso, haverá festas nas 12 cidades que sediarão os jogos. Autoridades de diferentes níveis, políticos em geral e dirigentes esportivos procurarão mostrar ao distinto público que os preparativos para o grande evento estão caminhando no passo adequado.
No que interessa diretamente a eles, políticos e cartolas, de fato, as coisas começam a caminhar em passo um pouco menos defasado em relação ao que foi programado. Mas os brasileiros comuns, que trabalham e pagam impostos, não têm motivos para festejar, pois, naquilo que a Copa do Mundo poderá resultar em benefícios para a população em geral, quase nada foi feito até agora.
Depois de muitas controvérsias, discussões, embargos por órgãos de fiscalização dos atos da administração pública ou pela Justiça, finalmente saíram do papel e estão em andamento as obras dos 12 estádios. São essas obras que, certamente, os organizadores da Copa apresentarão ao País como demonstração de que tudo caminha bem.
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Na maioria dos casos, isso só foi possível com a mobilização de imensa quantidade de dinheiro público, por meio de participações e financiamentos oferecidos pelo BNDES. Mesmo assim, algumas das obras de estádios - entre elas as de São Paulo - não estarão prontas para a realização da Copa das Confederações em 2013, que, do ponto de vista da organização, é considerada um ensaio para a Copa do Mundo do ano seguinte.
No entanto, as obras de infraestrutura urbana e de transportes, que interessam diretamente à população - e aos contribuintes, em particular, que arcarão com a maior parte dos custos da realização da Copa no País -, estão muito atrasadas. Para justificar o gasto de dinheiro público em ações de apoio à Copa, o governo vem afirmando que as obras complementares - programadas para dar mais segurança e conforto aos turistas e jornalistas que virão ao País em grande número em 2014 e facilitar sua movimentação dentro das cidades que sediarão os jogos e entre elas - resultarão em benefícios para toda a população.
Mas, enquanto os cartolas já têm alguns motivos para comemorar - e eles não precisam de muitos para fazer isso -, a população ainda espera. Quase quatro anos depois da escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 e dois anos depois de definidas as 12 cidades-sede, 64% de 81 empreendimentos definidos como essenciais para a realização da competição não saíram do papel. Isso, ressalve-se, está em relatório do próprio governo sobre as obras da Copa.
Das 49 obras no setor de locomoção planejadas para as 12 cidades, só 9 foram iniciadas. São monotrilhos, metrôs, trens e corredores expressos, a um custo total de R$ 12,1 bilhões. O plano do governo prevê para São Paulo obras no total de R$ 2,86 bilhões, mas, até agora, não foi definido nenhum projeto.
Quanto a aeroportos, há obras em apenas 8 das 13 cidades (as sedes dos jogos mais Campinas) por onde circularão os torcedores e os jornalistas. O plano do governo prevê obras em infraestrutura turística em sete portos, ao custo de R$ 898 milhões, mas elas também continuam no papel.
Em maio, o governo anunciou que as obras de transporte público para a Copa que não fossem licitadas até o fim do ano seriam excluídas da lista e não receberiam tratamento prioritário. Mas, diante do atraso comprovado pelo relatório oficial, admite afrouxar os prazos. "Não é razoável retirar uma obra se a licitação passar de 2011, mas ela for feita em 12 meses. Se couber no prazo-limite (dezembro de 2013), será admitido um novo prazo", disse o ministro do Esporte, Orlando Silva.
Sem condições de fazer o que anuncia, o governo vai adiando prazos, aliviando condições e alegrando os cartolas. Enquanto isso, a população espera.