O capital estrangeiro vai se reduzir a partir de agora 21/09/2011
- O Estado de S.Paulo
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconheceu, em Lisboa, que o Brasil poderá sofrer as consequências de uma eventual inversão do fluxo de capitais, apesar das medidas preventivas adotadas para enfrentar essa situação.
O Brasil já passa por dificuldades para captar recursos no exterior - dificuldades que poderão aumentar nos próximos meses. Os investidores estrangeiros se mostram avessos ao risco e muito cautelosos para emprestar dinheiro a qualquer país - e ainda mais para fazer investimentos diretos. Fatores peculiares aumentam a prudência dos investidores em relação ao Brasil.
Nos sete primeiros meses do ano, os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) líquidos somaram US$ 38,4 bilhões. A previsão para o ano é de US$ 55 bilhões. É provável que essa previsão não seja atingida, embora, com a desvalorização do real, os investidores recebem mais moeda nacional por suas aplicações.
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As recentes medidas deverão afetar as entradas de IEDs. O aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos leva à desistência de grandes projetos. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre derivativos resulta na redução dos empréstimos intercompanhias. E pode-se prever um aumento das remessas de lucros e dividendos das empresas, pois os países desenvolvidos precisam de recursos novos. Finalmente, a redução do crescimento de nossa economia deverá ocasionar um recuo dos IEDs.
No entanto, é na captação de recursos que o Brasil deverá enfrentar as maiores dificuldades para atender a uma dívida externa total, em julho, de US$ 405,7 bilhões (inclusive empréstimos intercompanhias), com uma amortização do principal de US$ 58 bilhões em 2012.
O quarto trimestre do ano é, geralmente, o período em que a captação de recursos é mais elevada. O Tesouro pretendia fazer uma emissão em real, mas já não se fala dessa operação. A Petrobrás também havia projetado uma emissão do mesmo tipo. Mas a desvalorização do real não é um fator atraente. Mesmo admitindo juros favoráveis, operações em moeda estrangeira representam neste momento um alto risco cambial que afasta as empresas brasileiras.
O Brasil, com suas grandes reservas, não deve ter problemas de curto prazo. Mas a balança comercial poderá ser afetada por uma menor demanda de commodities e uma queda dos seus preços (à exceção dos produtos agropecuários), enquanto as exportações de produtos industrializados demoram para reagir à nova taxa cambial.