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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O Brasil torce pela China
03/10/2011 - O Estado de S.Paulo

O Brasil terá um bom apoio para enfrentar a crise internacional, se a China, principal mercado para suas matérias-primas, continuar em crescimento. Mas falta saber se a própria economia chinesa poderá manter um bom ritmo de expansão com o mundo rico estagnado. Há sinais "óbvios" de desaceleração, segundo uma nota divulgada nesta sexta-feira pela agência estatal Xinhua. Alguns analistas arriscam previsões de longo prazo. O crescimento chinês será inferior a 5% em 2016, segundo 59% dos entrevistados numa sondagem realizada pela Bloomberg em vários países. A desaceleração já ocorrerá no próximo ano, de acordo com 42% dos 1.031 investidores consultados. O próprio governo chinês, no entanto, mantém um discurso otimista sobre as perspectivas de curto prazo e o roteiro de ajuste econômico do país.

No primeiro semestre o Produto Interno Bruto (PIB) chinês foi 9,6% superior ao de um ano antes. Num período pouco maior - de janeiro a julho - dados parciais continuaram mostrando um nível de atividade muito alto. As vendas no varejo, o investimento em máquinas e construções e o comércio exterior foram, respectivamente, 16,8%, 25,4% e 25,1% maiores que os de igual período de 2010. Esses números foram apresentados na semana passada pelo presidente do Banco do Povo da China, o banco central, Xie Xuren, durante a assembleia conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. "O desenvolvimento saudável e estável da economia chinesa continuará sendo uma contribuição positiva para a recuperação da economia global", afirmou.

O próprio FMI projeta uma desaceleração muito pequena para a China: 9,5% de expansão do PIB neste ano e 9% em 2012, resultados muito parecidos com a média dos últimos dois anos - 9,2% em 2009 e 10,3% em 2010.


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Esse notável desempenho resultou da conjugação de um grande estímulo à demanda interna e da manutenção de um grande esforço de exportação num mercado muito menos dinâmico do que antes da crise. Em 2010, as exportações mundiais de bens aumentaram 14,1%, mas essa variação mal compensou a diminuição de 12,1% ocorrida no ano anterior. Na semana passada a Organização Mundial do Comércio reduziu de 6,5% para 5,8% a projeção de crescimento das exportações globais neste ano.

As perspectivas para 2012 são de uma expansão menor do comércio internacional, por causa do cenário econômico previsto para o mundo rico - uma desaceleração muito forte ou, segundo os mais pessimistas, uma recessão. Esta última hipótese depende principalmente de fatores políticos. Se o Congresso americano rejeitar as medidas de estímulo contidas no pacote fiscal proposto pelo presidente Barack Obama, a economia americana levará muito mais tempo para sair da estagnação. Se novos impasses na Europa agravarem a situação dos países mais endividados, o estrago no setor financeiro terá um forte impacto no setor produtivo. Mas há sinais positivos. A mobilização política pela aprovação do novo modelo do fundo de estabilização europeia - aumento de recursos para 440 bilhões e maior amplitude de ação - é um dado animador, embora insuficiente para eliminar as preocupações.

Uma desaceleração maior da economia chinesa dependerá em grande parte da evolução econômica do mundo rico. Quanto pior o quadro nos Estados Unidos e na Europa, tanto piores as perspectivas da China a curto prazo. Nesse caso, as cotações das matérias-primas serão com certeza afetadas, exceto se as condições de oferta de produtos agrícolas forem muito prejudicadas por eventos naturais. Mas o governo chinês tentará, de toda forma, impor um freio ao crescimento, para conter as pressões inflacionárias.

Se o freio for moderado, melhor para o Brasil. De janeiro a agosto o País exportou para o mercado chinês produtos no valor de US$ 29 bilhões, 17,4% da receita global. Nenhum outro país comprou tanto do Brasil. Se os preços das commodities caírem, a receita comercial brasileira será fortemente prejudicada no próximo ano.

O País pagará pela negligência do governo em relação às condições efetivas de redução de custos e de elevação da competitividade industrial.

  

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