SIP debate violência contra a imprensa 14/10/2011
- Gabriel Manzano - O Estado de S.Paulo
Relatório dos países serão apresentados na assembleia-geral a partir de domingo; Brasil relata assassinatos, prisões, agressões e casos de censura
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne cerca de 1.300 jornais, começa nesta sexta-feira, 14, em Lima, a sua 67.ª Assembleia-Geral, marcada por um dado preocupante: 21 jornalistas foram assassinados no exercício da profissão nos últimos seis meses – desde o encontro anterior da entidade em San Diego, nos Estados Unidos.
Esse número torna os cerca de 30 relatórios nacionais – a serem lidos e discutidos a partir do domingo – o item mais importante do encontro, ao qual devem comparecer cerca de 500 editores e jornalistas de 30 países.
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O documento sobre o Brasil, a ser apresentado por Paulo de Tarso Nogueira, vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da entidade, deve ser um dos primeiros. Nele, o total de crimes e violações contra a liberdade de imprensa chega a 23. São 4 assassinatos, 2 prisões, 8 agressões e 6 novos casos de censura determinada por juízes de vários Estados do País.
Presidida pelo guatemalteco Gonzalo Marroquín, editor da revista Siglo 21, a assembleia será formalmente aberta apenas na segunda-feira, com um discurso do presidente peruano Ollanta Humala. Desde sua campanha presidencial, e nas decisões como presidente, ele tem defendido, como prometera, a liberdade de expressão no País. Dois ex-chefes de Estado também participarão do encontro – Carlos Mesa, da Bolívia, e Alejandro Toledo, do Peru – para um painel sobre as relações entre jornalismo e política.
Mas outros temas estão no programa dos próximos cinco dias. Os participantes, que divulgam informação para um total de 44 milhões de leitores, do Canadá à Patagonia, vão debater também, em vários painéis, problemas como o papel do celular na criação de novos públicos e novas fontes de receita e mecanismos legais que os governos têm utilizado, em tempos recentes, para pressionar a mídia e criar novas formas de censura.
Programação
Dois momentos “quentes” da agenda devem ocorrer na segunda-feira. No primeiro, o criador do WikiLeaks, Julian Assange, participará por teleconferência de uma discussão sobre sua atuação na divulgação de dados sigilosos de governos.
No segundo, juristas e jornalistas vão analisar o caso do fechamento do tabloide inglês The News of the World, pivô de um escândalo, na imprensa britânica, pelo modo como invadiu a vida privada de celebridades, para torná-la pública.
O encontro termina na terça-feira, com a atribuição de vários Prêmios SIP de Excelência Jornalística, um deles para os jornalistas do Estado, Leonencio Nossa, Celso Jr. e Eduardo Barela, pelo caderno especial Guerras Desconhecidas do Brasil, publicado no dia 26 de setembro, que descreve revoltas populares ocorridas ao longo do século 20.
Reunião do ano que vem será no Brasil
Uma das decisões já anunciadas pela direção da SIP, antes de iniciar as reuniões de Lima, foi a escolha do Brasil como sede da próxima assembleia-geral. Cerca de 500 delegados, de mais de 25 países, devem encontrar-se no Hotel Renaissance, em São Paulo, entre 12 e 16 de outubro de 2012. A reunião de meio de ano será em Cádiz, na Espanha, entre 20 e 23 de abril.
Essa assembleia, a 68ª da história da SIP, vai coincidir com dois fatos do calendário político. Primeiro, ela se instala uma semana depois das eleições para prefeito nas mais de 5 mil cidades brasileiras. Segundo, ela terá como pano de fundo os esforços de lideranças do PT para incluir nos debates do Congresso Nacional o marco regulatório da mídia.
A volta da SIP ao País ocorre depois de 11 anos de ausência. A reunião anterior, de meio de ano, foi realizada em Fortaleza em 2001. Antes dela, houve uma assembleia-geral, também em São Paulo, em 1991.