O resultado das contas externas é bastante frágil 24/11/2011
- O Estado de S.Paulo
As contas externas do Brasil não estão imunes às perturbações nos países do Primeiro Mundo e, mesmo apresentando-se positivas, há aspectos frágeis.
O déficit das transações correntes aumentou 4,4% em outubro. Em primeiro lugar, por causa do resultado negativo da balança comercial, de -23,5%, com as exportações caindo 9,5% e as importações, 2,1%. As exportações foram afetadas pela redução do preço das commodities e da demanda da China. A queda mais sensível foi do minério de ferro, que deverá continuar e certamente vai se ampliar, enquanto as vendas de produtos agrícolas parecem contar ainda com demanda sustentada. Todavia, há sinais de que poderão apresentar uma tendência de queda em razão da retração internacional.
As importações, nos dez primeiros meses do ano, cresceram 25,5%, e tudo indica que a política do governo de estimular o consumo doméstico, enquanto a indústria nacional não acompanha esse aumento da demanda, fará com que se ampliem as importações. As despesas com elas encontrarão freio apenas na redução dos preços no exterior e na maior desvalorização do real ante o dólar.
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Não apenas a balança comercial contribuiu para elevar o déficit em transações correntes. No mês de outubro o déficit dos serviços cresceu 10,9% e, nos dez primeiros meses do ano, 24,5%. É possível que a tendência de alta das viagens para o exterior se amenize. Permanecerá elevada, no entanto, para os outros serviços, a não ser no caso do transporte, por causa do recuo das exportações de minério e dos investimentos em instalações portuárias.
As rendas diminuíram em outubro, em relação ao mês anterior, mas nos dez primeiros meses do ano apresentaram aumento de 15,7%, o que parece ter um caráter duradouro em face do crescimento do estoque de investimentos estrangeiros.
A conta financeira será capaz de cobrir largamente o déficit das transações correntes? Nos dez primeiros meses do ano somou 219,6% do déficit, ante 116,3% no mesmo período do ano passado.
Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) neste ano respondem por 58,2% da conta financeira. Nada permite pensar que eles continuarão tão firmes, quando, de um lado, as aplicações estrangeiras na Bolsa estão recuando e, de outro, se podem prever maiores dificuldades para contratar empréstimos a um custo baixo. São parâmetros que devem ser levados em conta nas análises.