Dilma diz que não deixará faltar crédito para produção 29/11/2011
- Blig de Josias de Souza - Folha Online
Dilma Rousseff expôs a um seleto grupo de pessoas sua estratégia para lidar com a crise econômica que chega da Europa e dos EUA.
Deu-se a bordo do avião presidencial, nesta segunda (28), durante a viagem de duas horas e meia de Brasília para a cidade de São Gonçalo do Amarante (RN).
Dilma chamou à sua cabine privativa quatro integrantes da comitiva: os ministros Garibaldi Alves (Previdência) e Wagner Bittencourt (Secretaria de Aviação Civil)...
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...O presidente do BNDES, Luciano Coutinho; e o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).
O repórter conversou com dois dos passageiros que participaram da conversa. Contaram que Dilma não falou senão da crise. Expôs a sua receita: crédito farto, rigor fiscal e olho na inflação.
No miolo de suas preocupações de Dilma está a perspectiva de fechamento das torneiras do crédito para a produção.
O governo já detectou sinais da redução da oferta de financiamento externo. Dilma afirmou que o governo não ficará inerte.
Sem mencionar providências específicas, declarou que não faltará crédito às indústrias brasileiras.
Tomada pelas palavras, Dilma não cogita escorar o crescimento do PIB exclusivamente na política de juros cadentes do Banco Central.
Deseja combinar a flexibilização da política monetária com um redobrado rigor fiscal. Vai privilegiar os investimentos em detrimento dos gastos correntes.
Soou como se estivesse decidida a sinalizar para o mercado que o governo cumprirá religiosamente a meta anual de superávit primário de 3,1% do PIB.
O receituário de Dilma difere da estratégia adotada por Lula na crise de 2008 num ponto: a presidente não mencionou a hipótese de recorrer aos incentivos fiscais.
Quem ouviu o relato ficou com a impressão de que, dessa vez, o governo não repetirá a tática de reduzir os tributos de produtos específicos para estimular o consumo.
A exemplo do timbre categórico usado nas referências ao controle de gastos, Dilma expressou-se em termos categóricos também ao mencionar a inflação.
Entre otimista e determinada, disse que a taxa será puxada para as cercanias do centro da meta anual do governo (4,5%) no ano de 2012.
De resto, a presidente repisou a tese segundo a qual o Brasil dispõe de um anteparo que atenua os efeitos da crise: o mercado interno.
Declarou que fará o que for necessário para ampliar duas conquistas da Era Lula.
Pretende “consolidar” e “ampliar” a chamada nova classe média, além de eliminar bolsões de pobreza por meio do programa de erradicação da miséria absoluta.
Afora o mercado interno, Dilma mencionou na conversa aérea outro “diferencial” do Brasil: a democracia consolidada.
Chegou mesmo a qualificar a oposição de civilizada. Sem citar nomes ou siglas, deu a entender que, no limite, seus antagonistas não desconsideram o interesse nacional.
Dilma foi a São Gonçalo do Amarante para testemunhar a assinatura do primeiro contrato de concessão de um aeroporto brasileiro à iniciativa privada.
Como que decidida a fazer da concessão aeroportuária um símbolo de suas preocupações com a taxa de investimentos, anunciou:
Ficam prontos no 15 de dezembro os editais para a concessão de outros três aeroportos. Depois de São Gonçalo do Amarante, virão Brasília, Guarulhos e Campinas.
Voltando-se para o ministro Wagner Bitencourt (Aviação Civil), Dilma inquiriu: “É dia 15, não é ministro?” O auxiliar respondeu afirmativamente.
Para Dilma, a crise é um problema, mas também oferece “oportunidades”. Disse que saberá aproveitá-las.