A CNI mostra o processo de desindustrialização no País 08/12/2011
- O Estado de S.Paulo
Nunca os indicadores industriais divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), para o mês de outubro, mostraram tanto, como hoje, situação crítica da indústria de transformação brasileira.
Durante anos houve estreita correlação entre os dados de produção física, do IBGE, com os do faturamento real, da CNI. Pequenas diferenças se explicavam pelo fato de que os dados do IBGE incluem a indústria extrativa, que não consta do levantamento da CNI. Ora, neste ano se registra uma profunda diferença entre as duas pesquisas.
Para os dez primeiros meses do ano, o IBGE mostra um crescimento da produção industrial de 0,7%, enquanto o faturamento real, segundo a CNI, cresceu 5,4%. É natural que, diante dessa discrepância, se pergunte: ela é fruto do quê?
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A realidade é que a produção física descrita pelo IBGE se refere ao que é fabricado no País e medido pelo valor adicionado, enquanto os dados da CNI se referem ao valor de produtos finais vendidos no mercado incluindo componentes produzidos fora de nossas fronteiras, o que contribui para aumentar o faturamento das indústrias.
Os últimos dados da CNI relativos a outubro, em comparação com o mês anterior, num período em que o comércio faz estoques para as festas natalinas, são ilustrativos. O faturamento real, em termos dessazonalizados, aumentou 1,4%, enquanto as horas trabalhadas, que normalmente deveriam ter uma direção parecida com o faturamento, apresentam queda de 0,5%, e o nível de emprego cresce 0,2%. Seria, neste caso, um erro concluir que houve forte aumento da produtividade, já que com menos horas trabalhadas o faturamento cresceu nessa proporção.
Na verdade, a indústria de transformação limitou-se a montar produtos importados, cujo preço final é elevado e, além disso, inclui pesada carga tributária sobre o valor adicionado, além de outras despesas.
Durante todo o ano, vimos denunciando esse processo nocivo de desindustrialização, favorecido tanto pela taxa cambial excessivamente valorizada quanto pela elevada carga tributária que onera nossos produtos, o que representa um convite para buscar no exterior os componentes com maior conteúdo tecnológico.
Enquanto o governo brasileiro não decidir compatibilizar a carga tributária interna com a média internacional e oferecer meios financeiros para que nossos produtos incorporem tecnologia inovadora e apelo de marketing, iremos assistir à lenta asfixia da indústria nacional.