As decisões do Copom e seus efeitos de longo prazo 09/12/2011
- O Estado de S.Paulo
A Ata da 163.ª Reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi publicada no mesmo dia em que eram divulgados o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro -- registrando elevação maior que a prevista -- e as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os riscos que representam as pressões por um aumento dos gastos do governo federal.
A reunião do Copom foi realizada antes da divulgação dos dados do PIB do terceiro trimestre indicando uma estagnação. Mas esse movimento havia sido captado pelas autoridades monetárias, que optaram por uma redução da taxa básica de juros. Assim, os membros do Copom deixaram de reconhecer o erro cometido no primeiro trimestre, quando adotaram medidas macroprudenciais que se revelaram nocivas a seguir.
As autoridades monetárias preferem culpar o ambiente internacional - que alguns meses atrás consideravam que não produziria efeitos negativos sobre a economia brasileira -, em lugar de reconhecer seus próprios equívocos na condução da política econômica.
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O que predomina na análise delas é a tranquilidade em relação à possibilidade de terminar o ano de 2011 dentro das margens de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional - mesmo tendo o IPCA de novembro ultrapassado essas margens, com 6,64% em 12 meses.
O problema é que, com uma demanda doméstica robusta, mas com o descasamento entre a oferta e a demanda se acentuando, não se tem o direito de mostrar inabalável segurança em relação ao controle da inflação. Até porque, no final do ano, sempre há uma explosão de gastos públicos - o que, aliás, os membros do Copom parecem desejar para dar impulso à economia. Eles também não escondem seu desejo de que seja oferecida às famílias uma expansão de crédito, acompanhada pela redução da taxa de juros.
O problema não está tanto neste final de ano, já que será fácil para o presidente do Banco Central explicar uma pequena elevação acima da meta. O difícil será explicar os efeitos desse desvio sobre a inflação de 2012, quando vários fatores convergirão para acentuar as pressões inflacionárias e potencializar a alta de preços. E isso numa economia que tem mais problemas estruturais do que conjunturais e num país cujo governo se recusa sistematicamente a fazer as profundas reformas que seriam capazes de reduzir consistentemente - e sem efeitos colaterais - as taxas de juros que vulneram o setor produtivo.